Ainda bem que domingo sempre existiu. Principalmente nos tempos da Cruzada Eucarítica Infantil de Vila Arens, no final da década de 50 e início da de 60! E Cruzada significava: missa das crianças todo domingo, às 7h30, reunião de aprofundamento religioso até 9h30 e, depois, caminho de casa. E, se bom era existir o domingo, o dia se transformava em excelente no tempo de verão porque, no caminho de volta havia o Bar do Japonês, bem em frente à Sifco do Brasil, na avenida São Paulo. E Bar do Japonês tinha um significado especial: ali, nosso grupo de garotos e garotas era sempre vem vindo. Neste bar, às 9h30, durante o verão, era dia de esvaziar o balcão de sorvetes. Passávamos por ali em dez, doze pessoas. Durante o período da vida, eu, Ana Maria, João Zorzi, Oswaldo Soares, José Carlos Tresmondi, Aparecida Zorzi e, num outro período, eu, Ana Maria, Toninho, Laércio Toffolo, Eucidir Bernuci e outros jovens que minha memória me trai neste momento. Parávamos no Bar do Japonês e ele já sabia o sabor do sorvete preferido do grupo: coco queimado! A impressão que a gente tinha era que só ele sabia fazer este sorvete. O sabor, realmente, era de coco. E, melhor ainda, coco queimado... e sorvete de coco queimado tinha gosto de... coco queimado... Saboreávamos aquilo ali mesmo, dentro do bar. Conversando com o dono do bar e um ou outro freguês que estava por ali. Nenhum cliente tomando cerveja ou pinga naquela hora. Ainda! Depois de nos deliciarmos com o sorvete era hora de ir embora e... mais uma rodada de sorvete de coco queimado! Este, a gente saboreava a caminho de casa, porque a delícia do sabor tinha que durar mais tempo... E o dia se completava por volta das 16 horas. Neste horário terminava a matinê no Cine Vila Arens, que funcionava em frente ao Colégio Divino Salvador. E no caminho de volta, uma parada obrigatória: o Bar do Japonês. A pedida: sorvete de coco queimado! Na hora de ir embora, a despedida de sempre: “até domingo”. Era a certeza de mais sorvete de coco queimado!!! E era nestas conversas sobre sorvetes e sabores que nos lembrávamos de um tempo ainda mais distante de hoje: quando ainda nem escolas frequentávamos, mas que já sonhávamos com sorvetes. E tinha que ser sorvete de “copinho”, não de “palito”. Mas como nossas mães tinham aquela preocupação em não dos deixar tomar coisa gelada, para evitar possíveis resfriados, nosso sorvete de “copinho” tinha um sabor diferente: sorvete de doce de abóbora, que saboreávamos com o mesmo tipo de pazinha que outras crianças ou adolescentes, usavam para saborear os sorvetes de massa. É que nosso sorvete de doce de abóbora, colocado dentro do mesmo tipo de copinho dos sorvetes de massa, era conhecido pela gente como “sorvete quente”. E esse não fazia mal prá ninguém. E deixávamos o Bar do Japonês, relembrando histórias como essa, mas não deixando de elogiar o sorvete de coco queimado. E foram muitos e muitos domingos. Diria que infindáveis domingos com sabor de coco queimado. Mas como tudo que é bom, um dia acaba: o bar fechou as portas e o japonês não deixou a receita para ninguém e nunca mais saboreamos aquele sorvete que nossa infância perpetuou em nossa memória.
Nelson Manzatto é jornalista (nelson.manzatto@hotmail.com)