Jundiaí é controlada por rigoroso Plano Diretor, que define as áreas urbanas, rurais e principalmente as áreas de preservação ambiental que ocupam a maior área em extensão do município, por conta do tombamento da Mata Atlântica sobre para a Serra do Japi. Área sensível que foi tombada pelo Condephat a partir de um estudo consubstanciado do Prof.º Aziz Ab Saber (1924-2012) e que até hoje é reconhecido e respeitado. Já sabemos que, onde é possível lotear já está sendo, se não está, já está reservado pelas empresas e empreiteiras para no momento certo, vender lotes. Assim, a oferta e o preço de terrenos na cidade estão complicados, subindo cada vez mais e os lotes são menores. Além do acesso aos lotes passar por estradas e vias congestionadas.
Nenhum cenário seria mais propício para vender áreas em Jarinu, numa estrada que nos sentimos em Jundiaí, mas que não é. E na reserva de área agrícola definida pelo Plano Diretor de Jarinu de 2020.
Assim moraríamos em Jundiaí, com IPTU de Jarinu e as infraestruturas do município. Numa ilha que não corresponde à realidade do país, nem da região sudeste. Conforme dados divulgados no final de abril pelo IBGE, a região sudeste que tem o menor índice de pobreza do país, e no mapa da fome tem 11,7 milhões de pessoas com carência de alimentos.
Aqui está longe desses números brasileiros, e que é sim uma fonte de atração de mercado importante. Como Itupeva que tem sua área municipal de 200 km² quadrados e loteamentos que não param de aparecer, de todos os níveis e classes sociais, sendo lançados e já consolidados como o da Fazenda da Grama, um dos m² mais caros do país.
Todos têm uma consequência em comum: as vias de acesso a Jundiaí estão saturadas. Aquela de Jarinu que até outro dia era tranquila, passou a ser uma estrada impossível de dirigir e aqui no Caxambu, em determinados horários, as vezes é impossível sair das casas para a Avenida Humberto Cereser. Na Dom Gabriel é pior; todos os caminhos para os loteamentos e para Itu deixam o trecho intrafegável. Tudo isso parece que está visto aos olhos de quem inesperadamente se vê preso num desses momentos complicados do trânsito nessas rodovias e estradas. Mas o que é impressionante são as enormes áreas sendo preparadas para eventualmente parcelamento, umas já com muros, outras já com suas vias internas abertas, outras com maquinas em continuo movimento e o que impressiona mais é a ausência de placas. Não sabemos o que vai acontecer dos lados dessa estrada, com nome do "Natal Lorencini" que já, já estará familiar pra todos. Mas lá não é Jundiaí, é Jarinu.
Assim, estamos assistindo uma expansão de loteamentos e de lançamentos de edifícios impressionante. Mas não estamos dando importância ao impacto que já tem nas estruturas de mobilidade de Jundiaí, nem das que ligam às cidades vizinhas. Também não vejo projetos e ações mitigadoras expressivas nessas vias. Tudo isso vai ficar pra depois: depois do caos porque o caos já está.
O vetor oeste do Plano Diretor era a única saída para expansão da cidade, e assim foi que surgiram as centenas de empreendimentos e loteamentos ali como o Jardim Ermida, Medeiros Eloy Chaves e outros que em lançamento não mostram o endereço à primeira vista.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)
Comentários
1 Comentários
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Paulo Danilo Tromboni 11/05/2024Parabéns pela excelência do texto. Antes de parcelar, o Poder Público deve ou deveria resolver a questão da infraestrutura viária. Pois, quem já mora ou irá morar nestes locais, fatalmente se utilizam das esgotadas e estranguladas vias existentes. É imprudência administrativa na liberação de projetos de loteamento.