OPINIÃO

Na nova Economia Verde o Brasil pode ser campeão

28/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

De uns tempos para cá, algumas pessoas têm, com boa intenção, me advertido por estar tocando, vamos dizer, um samba de uma nota só, ao abordar seguidamente a questão do desequilíbrio do clima.

O que essa reação mostra de fato é a desinformação da opinião pública brasileira sobre não apenas as ameaças reais do desequilíbrio do clima - uma catástrofe que pode acabar com a vida na Terra como conhecemos - mas, também, sobre a oportunidade única que encerra, de fazer nosso país avançar e se tornar finalmente uma nação desenvolvida.

Para se ter uma ideia do que estamos falando: a consultoria McKinsey, uma das três maiores consultorias estratégicas do mundo, calcula que o Brasil tem uma posição privilegiada na cadeia de valor do hidrogênio verde - que deve substituir, em termos de valor, o petróleo - podendo movimentar US$200 bilhões (por volta de R$1 trilhão) até 2040, conforme publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 10 de abril.

É triste ver como corremos o risco de perder essa oportunidade única por termos, como diz a economista Zeina Latif - e tenho repetido - o olhar voltado para o passado e resistirmos, hoje como ontem, em todos os aspectos da vida nacional, seja nos costumes, seja na economia, a medidas modernizadoras. Para se ter uma ideia do que isso significa, basta dizer que a Lei do Divórcio demorou 40 anos para ser aprovada no Congresso.

Com a minha experiência de homem público, posso dizer que foi exatamente o olhar voltado para o futuro que permitiu a Jundiaí dar um salto em seu desenvolvimento e se tornar, no espaço de poucas décadas, uma das cidades mais dinâmicas do País.

A boa notícia é que a grande imprensa finalmente começa a dar destaque ao que de fato importa: em outra matéria recente do jornal O Estado de S. Paulo, de 8 de abril, uma matéria na primeira página com o título "Brasil pode liderar transição energética, mas está atrasado", dá início a uma série de reportagens que abordam a possibilidade real do País tornar-se protagonista mundial na nova Economia Verde.

As razões para isso, segundo o Estadão, são claras: "A conta para a descarbonização brasileira é mais barata graças às suas fontes de energia. Enquanto parte do mundo precisa trocar o carvão por uma fonte limpa, o Brasil já tem 48,5% de sua matriz energética ligada a fontes renováveis, como água e vento. A média no mundo é de 15%."

Como diz Henrique Ceotto, sócio da consultoria McKinsey: "Investir em descarbonização no Brasil não é apenas sobre zerar as emissões líquidas, é sobre criar um benefício econômico relevante para o País. Pelas nossas características, temos uma competitividade muito grande nas cadeias para descarbonizar a economia global".

Até recentemente o primeiro entre os emergentes na lista da descarbonização, o Brasil está perdendo essa posição. Entre 2014 e 2023, o País avançou 4,61 pontos no "Índice de Transição Energética", atingindo uma "nota" de 69,9, enquanto países como China e Índia ganharam, respectivamente, 12,78 pontos e 7,97 pontos. Hoje, o índice chinês é de 64,9 e o indiano, de 54,3.

De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial, embora o Brasil tenha feito progressos na criação de um ambiente robusto propício à transição energética, "é necessário mais esforço para oferecer um ambiente político estável apoiado por metas ambiciosas para acelerar a transição. O principal desafio do governo é estruturar as políticas públicas necessárias para colocar o país como líder mundial em energia limpa ao mesmo tempo em que aproveita seus significativos recursos de óleo e gás".

Ou seja, mesmo contando com vantagens naturais e uma matriz energética baseada em fontes renováveis, nosso país corre o risco de mais uma vez, como aconteceu no passado, quando perdemos o bonde da Revolução Industrial, perder agora o bonde da Economia Verde, mesmo tendo todas as credenciais para ser um dos seus protagonistas.

Para reverter esse quadro, precisamos aprender com os erros do passado, mas ter o olhar voltado para o futuro. Afinal, quem não aprende com os erros do passado está condenado a repeti-los.

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí (miguelmhaddad@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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