SEGURANÇA

Acidentes com aviões de pequeno porte se multiplicam no Brasil e 2024 já tem 24 mortes

Uma fatalidade aconteceu recentemente em Jundiaí, mas ocorrências vêm acontecendo em todas as regiões do país

Por Nathália Sousa | 10/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Reprodução/Polícia Militar

Uma fatalidade aconteceu recentemente em Jundiaí, mas ocorrências vêm acontecendo em todas as regiões do país
Uma fatalidade aconteceu recentemente em Jundiaí, mas ocorrências vêm acontecendo em todas as regiões do país

A constância de acidentes com aeronaves de pequeno porte tem aumentado consideravelmente no Brasil, com registros em diversas regiões, inclusive uma fatalidade recente em Jundiaí. Só neste ano, houve 47 acidentes aéreos, 12 deles fatais, com 24 mortes. No ano passado, houve registro de 155 casos, de acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). O número é 13% maior que o de 2022, quando houve 137 acidentes. Já em relação a mortes, foram 72 ano passado, 47% a mais que no ano anterior, que teve 49 registros.

ATENÇÃO

Especialista em segurança aérea, o comandante João Maria Fonseca, de 65 anos, explica que todo acidente tem o fator humano, mas o piloto é a última barreira, o último elo de uma cadeia, e por consequência se torna mais visível pela sociedade. Só que há uma sucessão de eventos e falhas até o acidente. "Estava acontecendo um evento a cada três dias, houve dia em que aconteceram duas ocorrências com aeronaves, ocorrências que causaram perda material ou de vidas humanas. Fiz um seminário recentemente para conscientizar, porque essa incidência estava me deixando desconfortável. Acidentes acontecem por várias razões, são complexos, mas nada é por acaso, é sempre uma cadeia de eventos e tem o fator humano. Às vezes um acidente começa a acontecer 20 anos atrás", pontua.

Ele elenca algumas variáveis que podem ser consideradas quando há alta de acidentes. "Quando há aumento de acidentes aéreos, sempre olho o macro, para o que acontece no país. Em área operacional, às vezes tem aumento de demanda e migração de pilotos para categorias mais altas, então os outros, que talvez não estivessem tão treinados e preparados para assumir aviões maiores, precisam subir de categoria. A falta de pilotos sempre começa na aviação comercial, então o pessoal vai subindo. Também tem a questão econômica, que quando não vai tão bem, interfere na manutenção de aeronaves, porque é um serviço muito caro. Um desequilíbrio econômico faz com que haja manutenção incorreta, mas a aviação não aceita nada 'mais ou menos', não pode ter improviso. O contexto operacional também diz muito, se é um helicóptero, táxi aéreo, avião agrícola, de aerodesporto. Mas aviação é avaliação de erros, riscos e ameaças. Se aconteceu um acidente é porque alguém, em algum momento, falhou em identificar os perigos e sanar erros."

O especialista aponta um fator de risco em Jundiaí, mas que já não é o principal. "Antigamente, Jundiaí tinha um problema, porque os pilotos se chocavam com a Serra do Japi, mas, a princípio, não foi esse o caso do acidente que aconteceu. A aviação é um planejamento minucioso. As pessoas falam que o inverno é perigoso, mas o verão é ainda mais, porque o clima é instável. O planejamento para o voo precisa considerar a meteorologia, se o avião pode entrar em nuvem ou precisa diminuir a altitude. Toda aeronave tem um envelope, que é como um manual para operar. Uma combinação fatal é o piloto sair do envelope dele e do envelope da aeronave", comenta.

Fonseca lembra que a aviação é feita por pessoas, cada uma com suas peculiaridades, e na altitude, por exemplo, o organismo muda, mas a constante é que todas precisam estar muito bem para pilotar. "Tem fatores humanos, cada um tem um DNA. Tem a fadiga, memória, atenção, vigilância, consciência situacional, mas nossa capacidade é finita. Pilotar é como parar em um semáforo à noite e tentar perceber ao seu redor se você corre risco de ser assaltado. No avião, esse estado de atenção acontece a cada dois minutos", lembra.

Por fim, o especialista reitera que o treinamento é a principal prevenção para o erro humano, seja ele em qualquer posto de uma equipe, e que também é importante a atuação do poder público, com regulação e investigação dos casos, por causa da incidência maior. "Na minha opinião, as autoridades do setor têm que estudar os casos e dar uma resposta para a sociedade. A sociedade não tem esse conhceimento e alguém tem que esclarecer, dizer por que está acontecendo isso. Não pode cair um avião todo dia e ninguém se pronunciar. A aviação é regulada, alguém tem que dar satisfação à sociedade."

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