OPINIÃO

Textor, as denúncias e a IA

10/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Estamos vendo mais uma série de acusações de John Textor, o dono do Botafogo SAF, falando sobre manipulação de resultados nos últimos campeonatos brasileiros. O problema é: quem declara que há maracutaia, e orientado por quem.

Vamos lá:

1- Quem declara que há desonestidade e que tem provas é um investidor americano endinheirado, homem de negócios inteligente e de sucesso. Textor não é um "qualquer". E isso faz com que devêssemos levar a sério suas acusações.

2- Quem diz a ele que há problemas são "especialistas" (não sabemos quem são – se são ex-árbitros que viram ou souberam de problemas, jogadores que estiveram em esquemas ou investigadores diversos) e uma empresa francesa chamada Good Game (que produziu o primeiro relatório a Textor e que foi contratada pela FERJ para monitorar o Cariocão 2024). Acrescente-se a isso o fato dele alegar que tem provas, por Inteligência Artificial, de que no jogo Palmeiras 5x0 São Paulo houve manipulação de jogadores tricolores para o placar ter esse elástico marcador.

3- Tudo o que foi dito no item 2 faz eu descredibilizar o item 1, onde tento levar a sério… e é esse o problema: a falta de provas concretas, reais e que mostrem nomes que cometeram de fato algo errado.

Considere: não vemos o nome do árbitro que reclama de propina ter sido divulgado; não vemos nomes de jogadores envolvidos em esquema; não sabemos como andam as investigações no Ministério Público, e me custa crer que um homem supostamente esperto como Textor acreditaria que a Inteligência Artificial conseguiria diferenciar erro de jogo com má atuação de atleta com a intenção de desonestidade. Afinal: alguém acredita que em um clássico de tamanha rivalidade como Palmeiras x São Paulo os atletas perderiam propositalmente de 5x0? Sendo assim, a defesa formada pelo goleiro Rafael, os zagueiros Beraldo e Diego Costa, além dos laterais Caio Paulista e Rafinha, em tese, é suspeita e deveria ser investigada. Também os árbitros, pela declaração anterior de que não houve pagamento de um suposto suborno. E, por fim, até o Fortaleza que foi envolvido no rolo. E cá entre nós: pelo que se escuta de Textor, o mundo conspirou contra o seu time, que não teve um único benefício no Brasileirão 2023 (ao contrário, só prejuízos), e por isso o Glorioso perdeu a diferença de 15 pontos.

Ironia à parte, antes de começar o Brasileirão, tudo isso deve ser resolvido, pois os atores do futebol (atletas, árbitros, treinadores e cartolas) são suspeitos pela denúncia de Textor. E se não existir nada disso, Textor deve ser punido pela irresponsabilidade da falsa alegação.

Fiquei pensando: se num dos inúmeros pênaltis polêmicos que vemos de movimento antinatural, se fosse usada a Inteligência Artificial para avaliar a lisura da situação, como ela julgaria o lance?

Desafio 1: distinguir causalidade, movimento antinatural ou intencional.

Desafio 2: distinguir se o atleta provocou o pênalti propositalmente ou acidentalmente.

Desafio 3: se o árbitro marcou certo ou errado. E, se errado, por incompetência ou má fé.

Se a Inteligência Humana tem dificuldade de interpretar tudo isso e precisa ainda avaliar as nuances a fim de ter a sensibilidade de compreender a jogada, como a Inteligência Artificial, fria, mecanizada e insensível, poderia dizer algo?

Textor será um homem magnífico como desportista se provar tudo o que está dizendo. Deverá até ser homenageado pela FIFA com algumas daquelas premiações diversas do The Best. Mas se for apenas devaneios ou uma forma de justificar o vexame do seu time na reta final do Brasileirão passado (e tudo leva crer que seja isso mesmo), o dono do Botafogo será eternamente ironizado pelo mico cometido.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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