OPINIÃO

Páscoa, a festa da passagem...


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Como boa parte das comemorações religiosas, a Páscoa tem sua origem relacionada aos fenômenos da natureza. Há milhares de anos, os pastores do Hemisfério Norte proclamavam a chegada da primavera com festa, revelando-se por isso, num evento universal, onde os homens, independente do credo e origem, festejavam o renascimento da vida.

Para os hebreus, era uma celebração de origem desconhecida embora desde o tempo dos acontecimentos narrados pelo livro do Êxodo, ela tomou sentido grande e obrigatório: lembrava a libertação do povo e sua saída da escravidão para a Terra prometida. A palavra significava essa "passagem", ou seja, de uma situação de manifesto constrangimento para a realização de direitos fundamentais.

Os católicos passaram a entendê-la como libertação através da Ressurreição de Jesus, que venceu a morte, completando a redenção da humanidade. Este fato é de capital importância à compreensão do Cristianismo, de tal modo, que sem ele, não seria possível imaginar sua existência e continuidade. A partir daí, inúmeras pessoas germinaram dentro e ao redor de si a contemplação de Cristo, traduzida na convicção de que o amor vencerá o ódio, na certeza de que Deus não abandona ninguém e que sua ação no mundo é mais forte do que o mal. Mesmo numa sociedade decadente como a nossa, onde a maioria só confia no valor da esperteza, na força da competição e na qual a corrupção é "institucionalizada", o renascimento do Senhor é apontado como o sentido maior desta provisória e a primazia da pessoa humana sobre a economia, buscando os reais valores no plano da justiça social e distribuição de renda. Assim, desejar "Feliz Páscoa" é querer que a pessoa faça a experiência reconfortadora de passar da desesperança à esperança, da tristeza à alegria, de uma situação de trevas e confusão interior a uma situação de luz e de certeza; da ausência prática de Deus na vida para o seu predomínio nos afetos, desejos, pensamentos e ações.

Quando deixarmos morrer dentro de nós todo egoísmo, toda vaidade e arrogância e cedermos esforços em nossos corações à partilha e solidariedade, alcançaremos um mundo melhor, no qual inexistirão a ganância, a violência, a miséria e a exclusão dos que não são economicamente úteis. Por isso, aproveitemos a ocasião para anunciar com ênfase o valor da vida e do amor como critério fundamental na construção de uma nova era. Há muitas tradições e símbolos envolvendo o período pascal, como ovos de chocolates e coelhos. Apesar da importância histórica que representam, praticamente foram absorvidos por apelos comerciais, distanciando-se de seus verdadeiros significados.

O maior sentido pascal reside na força da ressurreição de Jesus, colocando a pessoa no caminho de realizações sólidas e na linha da fraternidade, lançando na vida humana as sementes da fé na provisão divina, para que todos possam cantar a vitória da vida. Numa sociedade extremamente consumista, para muitos o período de Páscoa perde o seu real sentido, transformando-se num tempo de viagens, de lazer, de festas com amigos e parentes, com muito comida e bebida em geral. No entanto, já se disse que para cada ceia eucarística ser honesta, deverá haver pão sobre as mesas e justiça nas ruas. Infelizmente, a nossa realidade tem se distanciado cada vez mais dos mínimos padrões morais de convivência. É por isso que a data de hoje é muito importante, já que mostra a premente necessidade de se provocar uma transformação de base no relacionamento humano, no qual todos tenham voz e vez, e seja possível firmar entre os homens uma aliança que elimine o isolamento, a marginalização e a exploração de um ser humano pelo outro.A páscoa é um gesto em favor da esperança numa época em que desapareceram as utopias, deixou-se de sonhar e o mundo ficou pequeno" (Bispo Dom Luiz Soares Vieira).

JOÃO CARLOS JOSE MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É autor de diversos livros e ex-presidente das academias jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliad.hotmail.com)

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