OPINIÃO

Semana Santa, tempo de encontro com Deus

24/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

A semana que hoje se inicia com o Domingo de Ramos, para os cristãos, notadamente os católicos, é chamada de "santa". E se, assim a designam, não é porque deixem de ver santidade nas demais e, sim, porque nesta, ela resplandece, sobremaneira, em razão dos grandes acontecimentos da história da salvação que comemora. A sua celebração se revela em oportunidade para uma busca maior de conversão. Mais que simples representação histórica, os fatos que se revivem despertam nos homens o significado divino de que vêm eles carregados, atualizando em cada um de nós os sentidos de solidariedade, de fraternidade e de justiça social.

Infelizmente há muitos que transformam seus dias em simples feriadão, em uma espécie de pequeno veraneio e, até, em tempo de mera diversão ou coisa semelhante. Nesta trilha, invoquemos D. Geraldo Majella, Arcebispo de Salvador: "Na atmosfera atarefada em que vivemos, em nosso ambiente secularizado e laicista, a grande Hora de Cristo, a sua doação de amor sem reserva, essas realidades que mudaram não a face do mundo, mas o valor de nossa alma e sua perspectiva de vida correm o risco de serem desperdiçadas como uma espécie de fim de semana prolongado, com um tempo para não pensar, quando devia ser um tempo de pensar e, se possível, um tempo de rezar" ("A Tarde- Bh.- pág. 02- 16/04/2000).

Realmente, a Semana Santa se constitui num privilegiado tempo de encontro com Deus; época de pararmos e fazermos uma revisão de vida, de aprofundarmos a nossa história pessoal e compará-la à própria história de Cristo; momento de destacarmos o ato supremo de amor, nunca visto antes e que nunca poderá ser visto depois. Seus ritos cheios de beleza, de encantamento litúrgico e de mistério, são celebrativos de ocorrências que têm muito a ver com as esperanças e angústias dos dias em que vivemos. "...Ela existe, igualmente, para que celebrando a dor e a vida, na perspectiva do Cristo, encontremos soluções para os graves problemas que eclodem da primeira, por não se levar na dívida conta, a segunda. E a fome, a guerra e a prostituição em suas variadas escalas e as injustiças em todas as suas inditosas manifestações encontrem um "basta", também por se saber não serem da vontade de Jesus de Nazaré, cuja ressurreição se celebra ou se celebrou" (Pe. José Gilberto de Luca, pároco da Igreja do S.S.Sacramento e Sant'Ana, em Salvador, Bahia- "A Tarde"- pág. 08- 12.04.2000).

Numa sociedade cada vez mais individualista, onde o consumo parece ditar todas as normas, necessitamos de momentos de coragem para tentarmos mudar o sórdido quadro que hoje prevalece, a partir de uma consciente participação comunitária e de uma renovação nas nossas formas cristãs de viver, convencidos de que o cristianismo é sinônimo de comprometimento humilde com o exercício do serviço fraterno, a fim de construirmos uma sociedade justa e solidária.

A Semana Santa, que se estende até a Páscoa, constitui-se num momento de profundas reflexões. Efetivamente, precisamos de muita coragem e determinação, para mudarmos o sórdido quadro atual. Não é mais possível convivermos com a miséria extrema À qual são submetidos milhões de brasileiros, atingidos por diversas formas de exclusão regional, étnica e cultural.

Por isso, aproveitemos este período privilegiado de encontro com Deus com seus ritos cheios de beleza, de encantamento litúrgico e de mistério, para meditarmos sobre a importância do amor ao próximo, do desprendimento, da conversão e do respeito recíproco entre os indivíduos. Mesmo porque, reitere-se que professar um credo não é apenas ir ao templo e rezar. É amar todas coisas vivas sobre a terra, ajudar a quem precisa, ser responsável e generoso, perdoar e reverenciar os outros.

Aliás, os dias que já antecedem a comemoração pascal, conhecido no calendário litúrgico como Quaresma, desperta-nos à consciência de integração, para que ninguém se sinta marginalizado do processo vital. Trata-se de uma época de humanização e reconciliação, período ímpar na busca do enfrentamento aos desafios.

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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