OPINIÃO

Guerreiro cansado

21/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Dia desses na churrascaria, um garçom me chamou de guerreiro após trazer meu chope. Enquanto degustava meu suco de cevada eu fiquei pensando que esse posto já não me cabe. Deixei de ser guerreiro há muito tempo. Ou só troquei as batalhas pelo silêncio no forte, assumindo assim a alcunha de frouxo.

Já vivi a fase de discutir política a ponto de querer mudar a opinião alheia, e com isso estraguei churrascos de famílias e o clima em algumas mesas de bar. Já me ofendi por não gostarem de Senhor dos Anéis ou qualquer outro filme que eu goste muito. Livros? Vixe, perdi a conta de quantas disputas de argumentos me enfiei só pra ter meu ponto promovido a verdade absoluta.

Penso que a luta mais difícil foi comigo mesmo, a luta por entender quais são as batalhas que realmente mereciam o meu tempo e jogar de escanteio todas as outras.

Com isso eu não mudei o meu posicionamento político e nem deixei de apreciar livros e filmes que me tocaram de alguma forma. Eu só renunciei a discussões sem sentido, que me afastam de pessoas que quero por perto.

Não quero e nem preciso quebrar vínculos.

Acho que isso é um dos benefícios da idade, ou de várias discussões frustradas.

Vejo que, à medida que vou perdendo colágeno, vou ganhando maturidade. E por maturidade digo ressignificar meus confrontos.

E esses têm se tornado cada vez menores.

Depois dos trinta é muito difícil fazer novos amigos. Na verdade, a manutenção dos antigos já não é tarefa fácil. Tenho pra mim que amigos são um portal pro passado, logo não convém fechar essa porta por conta de convicções pessoais. Pena que digo isso depois de perder muita gente no processo.

Largado no sofá assistindo aleatoriedades no celular, me deparei com um vídeo de uma moça (infelizmente não me lembro o nome nem de onde) relatando que, após um rapaz bater em seu carro, ela simplesmente acenou e foi embora. Vendo que o dano era pequeno, entendeu que não valia a pena mudar toda a sua rotina por conta daquilo. Ela decidiu que o desconhecido não tinha o direito de mudar todo o seu planejamento. Ela não quis comprar essa briga.

E voltando à minha reflexão inicial eu vejo quantas brigas bobas e demoradas que poderiam ser trocadas por uma maratona de "Friends" ou "De Férias com o Ex". E antes de receber julgamentos por conta de meus gostos eu já aviso que a temporada de discussões está fechada por tempo indeterminado. Meus gostos são só meus.

Se depois de muito esbravejar eu deixei de discutir questões políticas e aceitei a duras penas que ideologia não se muda facilmente, e nem deve ou precisa mudar. Não vai ser meu gosto duvidoso que vai entrar em pauta.

Chegando na metade dos trinta e com uma medicina que promete que viverei até a casa dos oitenta ou quem sabe até mais, vejo que não estou nem na metade da vida. Então não posso gastar esse tempo com conversas inúteis.

Passei a acenar mais, fazer cara de sonso e até concordar só pra agradar. Assim deixo minhas opiniões e debates para aqueles que conseguem me ouvir e discordar sem perder o respeito.

Geralmente meus amigos! Aquele portal pro passado, lembra?

Afinal de contas, se é pra voltar até lá em uma viagem tão longa, que seja de bom humor e em boa companhia.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.