SAÚDE

Autismo Nível 1 pode ser confundido com timidez

A psicóloga Juliana Camilo explica como lidar com os desafios da comunicação e interação

Por Rafaela Silva Ferreira | 17/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí

Divulgação

Indivíduos com essa classificação podem ter dificuldades sociais
Indivíduos com essa classificação podem ter dificuldades sociais

O Autismo Nível 1, anteriormente conhecido como Autismo Leve, é o nível de menor necessidade de suporte dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Indivíduos com essa classificação podem apresentar dificuldades em áreas como comunicação social, interação social e comportamento restrito/repetitivo, o que pode ser confundido com timidez.

A psicóloga clínica Juliana Camilo explica como identificar e lidar com os desafios da comunicação e interação social no nível 1. “O grau 1 dentro do Espectro Autista possui sinais mais sutis e pode ser confundidos com timidez ou outras condições de desajuste social, portanto, o diagnóstico torna-se um pouco mais desafiador. Entretanto, ter acesso ao diagnóstico possibilita uma melhor inclusão e desenvolvimento do sujeito, mesmo com os desafios existentes.”

Para isso, a especialista pontua que é necessário respeitar e acolher as particularidades de cada indivíduo, evitar julgamentos e suposições. “É necessário estar atento aos sinais de desconforto e possibilitar um cenário de acolhimento e suporte diante dos momentos de maior dificuldade dessa pessoa. Além disso, a construção de autoconsciência emocional pode ajudar a gerenciar esses comportamentos a partir da identificação das emoções e de uma possível situação de desregulação”, explica Juliana.

Quanto os recursos disponíveis, Camilo deixa claro que atualmente existem diversos grupos e instituições que promovem troca de informações à respeito do transtorno de espectro autista. “Com acompanhamento e estimulação adequada, a pessoa que está dentro do espectro consegue desenvolver autonomia e independência para realizar as atividades diárias. Psicoterapia, fonoaudiologia e acompanhamento psicopedagógico estão entre as intervenções que facilitam esse processo. Por outro lado, compartilhar experiências com outras pessoas do espectro, fazer parte de grupos e dividir os desafios enfrentados pode contribuir para o desenvolvimento social do indivíduo”, finaliza.

RECONHECENDO OS SINAIS

A designer gráfica e assistente de marketing Beatriz Bruno, 25 anos, recebeu seu diagnóstico recentemente, com 24. Ela conta que, por ser Autista de Nível 1 de suporte, já é difícil que traços do espectro sejam diagnosticados, piorando ainda mais por ela ser uma mulher. “Eu já sabia que eu era diferente desde novinha, sempre desconfiei que tinha algo de ‘errado’ comigo, principalmente na adolescência quando os eventos sociais começam a ser mais frequentes e eu não tinha interesse nenhum nisso, o que só fazia com que eu me isolasse cada vez mais dos amigos".

Segundo a designer, algumas vezes desconfiou ser autista, mas foi desacreditada por muitos profissionais que não tinham conhecimento sobre o espectro. “Na última profissional que fui atendida, já tinha desistido de abordar esse tema, mas ao me ouvir relatar minhas dificuldades e a forma como eu era ‘sincera demais’, ela percebeu e me solicitou um exame neuropsicológico. Fiz o exame e o resultado deu que eu realmente era Autista Nível 1 de suporte.”

Beatriz diz que o mais difícil é as pessoas não perceberem o tamanho do esforço que ela faz para parecer neurotípica o dia inteiro. “Esse é um comportamento comum e involuntário que se chama ‘masking’, mas é muito cansativo porque tem uma hora que não consigo mais mascarar minha personalidade neurodivergente. Para mim”, continua, “Quando a conversa é sobre um assunto que domino, consigo fluir muito bem mas quando é algum ‘small talk’, como ‘Oi, tudo bem?’, ‘nossa, tá calor, né’, começa a complicar um pouco porque não vejo sentido e tenho dificuldade em manter um diálogo em que o assunto não é previamente estabelecido.”

Contudo, Beatriz conta que depois que teve seu diagnóstico, sua vida melhorou muito. “Eu passei a entender porque era ‘diferente’ e ver que realmente para mim, algumas coisas são sim mais difíceis que para os outros. Eu passei 24 anos da minha vida me perguntando o que tinha de errado comigo e hoje eu sei que não tem nada de errado, eu sou apenas ‘diferente’. E gosto de ser assim. O que não gosto é de ser tratada de forma diferente ou inferior quando a pessoa descobre ou conto que sou autista. Porém, para mim é zero tabu, foi libertador”, finaliza.

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