Empurrei a bicicleta por alguns quilômetros até achar alguém que pudesse resolver o meu problema. Como já conheço bem a cidade, não foi difícil.

Chegando no local, vi que o mecânico estava fazendo um reparo em outra bike. Pelo visto não fui o único que teve sua pedalada de início de semana interrompida.

Assim que o rapaz terminou, a dona da bicicleta perguntou o valor do serviço, e se surpreendeu ao ouvir que ele que não cobra por pequenos reparos.

Ela saiu agradecida e quando cruzava a saída voltou perguntando por um banco confortável.

Por fim comprou um banco e uma fitinha de decoração.

Logo o rapaz veio me atender e ficamos falando sobre bikes enquanto ele fazia o conserto. Que visto daqui parecia ser algo muito simples e corriqueiro. Típico de alguém que já trabalha a bastante tempo com isso. Dava pra ver pelo olhar de satisfação, apesar de suas mãos sujas de graxa.

Comentei que tenho vontade de restaurar uma Caloi da década de oitenta. Ele riu e de imediato me pediu pra esperar e voltou de lá de dentro com um quadro branco, com várias marcas de uso. Mas que era exatamente o que eu quero para sanar a minha nostalgia.

Perguntei por quanto ele me vendia e ele simplesmente me deu, disse que comprou apenas para tirar as rodas para um outro cliente e que já havia ganho o seu lucro, que ficava feliz em ver alguém que estava disposto a restaurar e dar um bom uso.

Aceitei o presente, mas combinei que seria ele quem iria colocar as peças que quero, de modo que ele ganharia pelo serviço e eu poderia pagar por sua generosidade.

Voltei pra casa com minha bike consertada, um projeto para uma segunda que sempre quis e com o pensamento de que como alguém que tem um comércio tão simples pode ser assim tão generoso. Eu quem acordei reclamando de bobagens do meu dia vi naquele rapaz uma nova forma de olhar a vida. Uma vontade de ajudar que eu simplesmente não consigo enxergar em mim.

Quando eu sorri, feliz pelo presente, vi que ele sorriu junto, parecia compartilhar da minha alegria sem nem me conhecer.

Da mesma forma que só quis ajudar a outra moça. Se esquecendo até que reparos como aquele apesar de simples são o seu ganha-pão. O seu ofício.

O resto do dia eu passei tentando ver onde eu posso rir com alguém ao invés de reclamar. Onde eu posso ser um pouco como aquele homem.

Voltei pra casa tão distraído que quase bati a roda em um buraco, imagina só! Dois reparos em um dia.

Seria engraçado voltar lá para colar novamente o pneu, mas quem sabe eu não tivesse outro ensinamento.

Por fim meu pneu segue inteiro. Mas agora tenho uma nova bike para restaurar e creio que com ela novos ensinamentos e histórias virão.

Realmente, pedalar às terças pela manhã costuma ser revigorante.

Recomendo!

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)