OPINIÃO

Mulher, símbolo de força e determinação

03/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O Dia Internacional da Mulher, que se comemora a 8 de março, sexta-feira próxima, traz na sua origem uma tragédia, que se constituiu num marco doloroso. Durante as manifestações pela redução da jornada de trabalho – que, no século XIX, era até de 17 horas diárias - 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova York, cruzaram os braços reivindicando o direito de dez horas e promoveram a primeira greve no país conduzida apenas por es. Como consequência da iniciativa, considerada ousada demais à época, elas foram violentamente reprimidas pela polícia e se refugiaram dentro da fábrica. No dia oito de março de 1857, os patrões, com o auxílio de policiais, trancaram todas as portas e atearam fogo ao prédio matando-as.

Se o objetivo desse crime hediondo era o de intimidar atitudes contrárias aos interesses patriarcais, o resultado foi o surgimento de uma nova mentalidade referente ao sexo feminino, sendo que suas representantes adquiriram maior consistência do estado de discriminação reinante e passaram a se empenhar na busca de suas plenas realizações como pessoas. Durante a II Conferência Internacional da Convergência Socialista, realizada em 1910, na Dinamarca, a famosa ativista Clara Zetkin propôs que a data da morte daquelas grevistas norte-americanas fosse escolhido como comemoração mundial da mulher, sugestão prontamente atendida.

Por isso, tal celebração contém forte apelo reivindicatório, apesar de muitos não valorizarem e até desprezá-lo sob o argumento de que também deveria existir uma homenagem especial no calendário para os homens. Ela se revela ainda numa excelente ocasião para se avaliar quão longo e difícil foi, e continua sendo, a caminhada feminina em favor de seus direitos. Nessa trilha, a Constituição Federal de nosso país reconhece a sua aspiração à completa cidadania, mas, na realidade, existe uma grande distância entre a lei e o cotidiano das brasileiras, demonstrada, entre outros, pelos muitos constrangimentos a que são submetidas, além dos constantes casos de violência, preconceito e discriminação de que são vítimas, apesar da Lei Maria da Penha ter atenuado tais abusos.

No passado, entretanto, a situação já foi pior. Hoje, a determinação legal de que as listas dos partidos políticos e coligações apresentem um percentual mínimo de 30% (trinta por cento) de candidaturas femininas foi um passo importante para aumentar a participação delas na órbita política. Recentemente foi aprovada uma PEC que exige que as mulheres que exerçam as mesmas funções dos homens recebam iguais salários. Mas os desafios não acabaram. Pelo contrário, exigem uma luta cotidiana a ser travada em todas as esferas sociais – até no próprio lar -, sempre visando o<ctk:20> respeito mútuo e a harmonia entre os gêneros.

Desta forma, o Dia Internacional da Mulher efetivamente não deve ser apenas cultuado no calendário. É preciso que os cidadãos de bom-senso se esforcem para conquistarmos o pleno direito de igualdade entre todos independente do sexo e assim construirmos um mundo mais justo onde o preconceito seja totalmente banido, excluindo-se a fraqueza cultural que teima em ditar o masculino como o mais forte.

Nessa ocasião, quando são especialmente saudadas, preocupemo-nos com propostas que levem a mudanças legais e à implantação de políticas de combate a qualquer tipo de discriminação. Precisamos alcançar uma sociedade nova, de cooperação e parceria, de respeito às diferenças, para que se chegue à unidade dos contrários, ao equilíbrio dos opostos, à isonomia de anseios e oportunidades. A cidadania plena não pode se perpetuar em sonhos, mas se transformar em realidade através de conquistas e enfrentamento dos desafios que os costumes e tradições anacrônicos originam.

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

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