A palavra "economia" deriva da junção dos termos gregos "oikos" (casa) e "nomos" (costume, lei), resultando em algo como "regras ou administração da casa, do lar".
Trata-se, portanto, de uma ciência social que examina como a sociedade utiliza os recursos escassos para produzir bens e serviços, distribui esses produtos entre os diversos membros da sociedade e organiza as atividades econômicas para alcançar os objetivos desejados.
De uma forma mais simples, economia é observar o comportamento humano tendo em consideração a relação entre as necessidades dos seres humanos e os recursos disponíveis para satisfazer tais necessidades, refletindo sobre os problemas existentes e propondo soluções.
Porém, é isso que encontramos? Há verdadeira reflexão sobre os problemas e a busca de soluções? O mundo cada vez mais desigual, com uma abissal concentração de renda, com cada vez mais pessoas sobrevivendo (e não vivendo a vida) são indícios que não está tudo bem. Como me disse um amigo, as "pessoas" se tornaram "indivíduos". E isso é algo grave. Explico.
O termo "indivíduo" refere-se a uma única entidade distinta em um grupo ou espécie. É frequentemente utilizado para descrever uma pessoa de forma mais abstrata, destacando sua singularidade e identidade única. Pode ser utilizado de forma mais neutra, sem implicar qualquer conotação emocional ou social específica. Já "pessoa" também se refere a um indivíduo, mas com uma ênfase mais forte em sua natureza social e pessoal.
Uma pessoa é vista como um ser humano completo, com características, sentimentos, relações sociais e identidade cultural. O termo "pessoa" geralmente carrega uma conotação mais humanizada e relacional do que "indivíduo", implicando uma consideração das complexidades sociais e emocionais que envolvem os seres humanos. Em resumo, enquanto "indivíduo" destaca a singularidade e a distinção de alguém inserido em um contexto mais amplo, "pessoa" enfatiza sua humanidade, identidade social e conexões com os outros.
Ninguém pode negar que nosso mundo está cada vez mais individualizado. E a economia não busca soluções para as pessoas, mas sim uma rentabilidade cada vez maior para os indivíduos que buscam os conhecimentos desses notáveis estudiosos e os pagam regiamente para isso.
Pensando nessa situação que aparentemente não tem saída, nem para um lado ou para o outro (sempre me vem à mente Mark Fisher, escritor britânico de extrema esquerda, que escreveu que é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo...e sem esperanças e em profunda depressão, cometeu suicídio), o Papa Francisco buscou fazer uma revolução.
A "Economia de Francisco e Clara" se concentra em repensar os paradigmas econômicos atuais, inspirando-se na visão de São Francisco de Assis e Santa Clara de Assis. Foi proposto pelo atual Sumo-Pontífice e teve sua primeira edição em 2020, em Assis, na Itália, com o intuito de reunir jovens economistas, empreendedores e líderes sociais de todo o mundo para discutir e propor alternativas econômicas mais justas, solidárias e sustentáveis. Além disso, esse movimento trata de promover uma reflexão sobre como a economia pode ser transformada para enfrentar os desafios contemporâneos, como desigualdade social, pobreza, degradação ambiental e exclusão.
O evento aborda uma variedade de temas, incluindo justiça social, desenvolvimento sustentável, ética nos negócios, solidariedade e responsabilidade social. Ao reunir pessoas de diferentes origens e experiências, a "Economia de Francisco e Clara" busca promover um diálogo interdisciplinar e multicultural sobre o futuro da economia global.
Esse foi também o tema tratado pelo mestre em sociologia Eduardo Brasileiro na Roda Viva promovida pelo Seminário Diocesano Nossa Senhora do Desterro em Jundiaí na noite de segunda, dia 26 de fevereiro. Mais que uma oportunidade de ouvir esse estudioso que esteve lá em Assis e conversou com o Santo Padre, interessante foi ver a reação e interação dos muitos seminaristas, padres e do nosso bispo Dom Arnaldo Carvalheiro Neto.
Fiquei feliz e privilegiado porque vejo aqui em Jundiaí ações muito parecidas com essas propostas pela Economia de Francisco e Clara. Um exemplo é o Programa Galpão Criativo, de capacitação e geração de renda, da Fundação Escola TVTEC, que tem à frente a queridíssima amiga Mônica Gropelo (minha companheira de talharim no parmesão).
Mas de fato a alegria maior foi aprender mais sobre essa nova abordagem proposta para fazer uma economia mais humana, para as pessoas. Tratarei mais disso em outro momento.
Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)