OPINIÃO

Cartão Azul no futebol

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Quantas vezes você ouviu falar de Cartão Azul no futebol? Eu já apitei com ele, no Campeonato Paulista de Aspirantes, onde Eduardo José Farah o criou para as faltas coletivas e tiros livres acumulados por jogador. Uma invencionice que não deu certo…

Agora, International Board e FIFA querem resolver o que na Europa é chamado de "câncer do futebol" (sim, é um termo forte usado pelas comissões de arbitragem do Velho Continente): a falta de respeito para com os árbitros.

O problema é: com a globalização econômica e social, há uma invasão de jogadores sulamericanos por lá. O que aqui na Libertadores da América é feito "vistas grossas", lá na Champions League é inadmissível: "rodinha de jogadores em torno do árbitro", "atleta acompanhando juiz até o VAR", gestos, aplausos irônicos e outras reclamações. Para isso, ao invés do costumeiro cartão amarelo, um cartão azul! E o jogador que reclamar com o árbitro ficará automaticamente 10 minutos fora do jogo.

A lógica dos cartões acumulados continuaria: amarelo amarelo = expulso por reincidência; amarelo azul e azul azul, idem.

Além das reclamações, o Cartão Azul será usado para faltas mais ríspidas, consideradas excessivas para vermelho e insuficientes para somente um amarelo. Seria, na analogia das cores, um "laranja".

E por quê tende a dar errado?

Por dois motivos:

1- Já existem instrumentos para se coibir as reclamações, que são a advertência verbal, o Cartão Amarelo e a Expulsão por reincidência. Se fossem praticados corretamente, não precisaria de um Azul. Imagine aqui no Brasil, onde os árbitros fingem-se de surdos? Faltará coragem para dar o Cartão Azul, com medo de veto - e a equipe que levar azul, fará cera e anti-jogo para passar o tempo e esperar o retorno do seu companheiro.

2- Teremos que mudar o termo "Livro de Regras" para "Bula". Afinal, a Regra 12 (Infrações e Indisciplinas) terá ainda mais problemas de interpretação. Se já é discutível qual lance é para Amarelo ou Vermelho Direto, imagine as interpretações para Amarelo, Azul ou Vermelho (ou nenhum desses)? O certo é: muito árbitro se esconderá atrás do Azul para não aplicar o Vermelho.

Algo que não se discutiu a contento, e que vem junto com esse pacote: hoje, os jogadores não podem questionar o árbitro, nem mesmo o capitão da equipe. Pela Regra, o capitão serve apenas para o sorteio e para comunicações do árbitro à equipe, como um representante. A partir da introdução do Cartão Azul, quer se dar também o poder de, agora, o capitão ter a possibilidade de questionar o árbitro em nome da sua agremiação. E a pergunta será: ele estará blindado de azul, pois questionamento é reclamação?

Após os testes (não se creia em grandes ligas), a ideia será abortada provavelmente. E aqui, nascerá outra discussão: o futebol precisa de tantas novidades?

Sempre defendi o futebol como esporte popular por ser simples de se jogar. Qualquer garoto brinca na rua colocando dois chinelos como trave, cria o seu próprio campinho. Entretanto, as regras que ficaram anos (ou melhor: décadas) sem modificações, passaram a ter mudanças velozes, muitas vezes abruptas. Uma delas: o VAR (que abordaremos em outra oportunidade). O certo é: tais alterações confundem atletas, árbitros, jornalistas e principalmente, o maior interessado: o público! E o maior exemplo disso: as mudanças anuais em relação a impedimentos e mão na bola. O apaixonado torcedor discute, não entende, desanima e deixa de lado a pendenga do "foi ou não foi" e faz outra coisa. Justamente por se sentir "por fora" da nova mudança.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

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