OPINIÃO

Um panorama da indústria


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A produção industrial, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), terminou o ano embalada, com crescimento de 1,1% em dezembro em comparação com novembro. Desde agosto, foi a quinta alta seguida, superando o patamar pré-pandemia (0,7% acima de fevereiro de 2020). O resultado do fechamento do ano de 2023 mostrou pequeno avanço de 0,2%, devido ao primeiro semestre fraco (-0,3%) e ao segundo mais aquecido (0,5%).

O número de dezembro surpreendeu a todos e foi bem acima das expectativas dos bancos, consultorias e também da Fiesp. O IBGE atribuiu o resultado a alguns indicadores macroeconômicos positivos: ao mercado de trabalho resiliente, à inflação em patamares mais controlados, sobretudo alimentos, à contribuição positiva das exportações, especialmente de commodities, e à flexibilização na política monetária com a redução na taxa de juros.

Aliás, é importante destacar os comportamentos distintos dentro no setor. As indústrias extrativas puxaram o resultado da indústria geral em 2023, com crescimento de 7%, influenciado pelo aumento da produção de petróleo e mineração. Já indústria de transformação tem mostrado fôlego curto. Teve a maior parte dos ramos industriais no campo negativo e terminou o ano com uma queda de 1%, recuo mais forte do que o registrado em 2022, quando fechou em 0,4% negativos.

O quanto este embalo do final do ano vai perdurar? No estado de São Paulo, o mais industrializado do país, a pesquisa Rumos da Indústria Paulista detectou que 45,5% das empresas estão otimistas/muito otimistas em relação às vendas em 2024. É um dado auspicioso, porque trata-se de um percentual maior de otimismo do que os industriais declararam no início de 2023. Os empresários também esperam agora maior aumento da produtividade do que no ano passado.

Os custos são um ponto de atenção, na visão dos industriais. Estão pessimistas/muito pessimistas 43,3% dos entrevistados pela pesquisa e para um terço deles (33,1%), os custos devem aumentar até 10% este ano. Na perspectiva neutra estão o lucro, os investimentos e o emprego. Da mesma forma, o crédito apresenta condições semelhantes de prazo e de facilidade que em 2023, mas 46% dos empresários ouvidos indicam um custo maior este ano.

Para a Fiesp, o balanço de forças em 2024 será mais positivo na comparação com o ano passado, sobretudo no segundo semestre, em função da demanda. Em relação ao consumo, a contribuição será positiva devido à redução nos juros, ao mercado de trabalho aquecido, à expansão real da massa salarial e à inflação controlada.

A Fiesp espera uma recuperação dos investimentos por conta da melhora nas expectativas dos empresários, do equacionamento dos problemas relacionados à pressão nas cadeias de insumos, e de medidas recentemente propostas pelo governo. Entre elas, a Depreciação Superacelerada, que é um estímulo à aquisição de máquinas e equipamentos, o Mover, que tem como objetivo incentivar à modernização tecnológica e a descarbonização do setor automotivo, e o Plano Mais Produção, que destinará R$ 300 bilhões para incremento de produtividade, exportação, inovação e indústria verde.

Com isso, a entidade projeta aumento de 1,8% da produção industrial em 2024. A médio e longo prazos, a maturação da reforma tributária e a implementação da nova política industrial anunciada pelo governo podem contribuir para a retomada do protagonismo da indústria no crescimento econômico brasileiro.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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