OPINIÃO

Esperei mais de dez anos por esse discurso

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O texto que você lerá agora é o meu discurso de Professor Paraninfo da turma de Jornalismo de 2023 da UNIFACCAMP que cola grau hoje. E esse discurso demorou mais de dez anos para acontecer. Demorou porque desde meu primeiro ano como docente, sempre fiquei longe das homenagens e não por opção própria. Talvez você ache que eu esteja praticando auto-piedade. É, você tem esse direito.

Mas na verdade, esse texto aqui se trata de duas coisas: a primeira é que por ser uma colação de grau compartilhada com outros cursos, fica inviável de todos os paraninfos e homenageados discursarem sem que isso custe horas. Portanto, escrevê-lo aqui é a maneira que encontrei de registrar o que sempre quis dizer.

A segunda coisa diz respeito ao quanto significa pra mim externar o sentimento que tenho, resultado do acúmulo de mais de dez anos como professor universitário que morre de medo de ser esquecido e que, no fim das contas, sempre era. Por isso esse texto/discurso pode soar um desabafo. E talvez seja mesmo.

Dadas as devidas advertências, o discurso:

Minha vontade de se tornar professor veio logo nas primeiras semanas de aula na faculdade de jornalismo, na Faculdade Campo Limpo Paulista (FACCAMP), após uma aula... digo, um show, do Paulo Genestreti que, para explicar o conceito de arte gótica, subiu na mesa e gritava a plenos pulmões hipnotizando todo mundo, sobretudo a mim. "É isso que eu quero fazer da vida", dizia para mim mesmo vislumbrado com aquele professor.

Foi numa quinta-feira, dia 6 de setembro de 2012, véspera de pré-feriado prolongado, que eu pisava numa sala de aula na condição de professor pela primeira vez. Assim que a aula acabou, eu percebi que aquele lugar era o meu lugar no mundo. Eu estava completamente encaixado com o universo, um conceito que eu só aprenderia anos mais tarde com o meu encontro com a filosofia.

Por me sentir completamente confortável naquele ambiente, eu comecei a me soltar. Minha meta era ser como o Paulo Genestreti, ou seja, não ser um "dador de aula" e sim um verdadeiro "show man". Senti liberdade e confiança de experimentar todo o tipo de metodologia para fazer da aula um espetáculo e matar dois coelhos com uma cajadada só: ensinar de uma forma eficaz e cair no gosto da turma.

Passei a perseguir a posição de "professor favorito" e esse foi o meu grande erro. O lado bom é que isso me motivava a buscar a excelência das minhas aulas, mas o lado ruim é que minha necessidade de aplauso somada ao meu medo de ser esquecido foram fatais para gerar uma expectativa de reconhecimento.

A partir do meu segundo ano como docente, eu experimentava o gosto amargo da expectativa não correspondida. Ano após ano não fui sequer convidado para uma formatura dos meus alunos. Ano após ano eu sofria, resmungava e me questionava o que eu estava fazendo de errado para não estar lá, no local de honra destinado aos professores homenageados. Por que eu não era escolhido?

Foi então que recentemente, ano passado, eu aprendi com essa turma de jornalismo que está se formando agora, algo muito valioso: minha qualidade como professor não poderia ser validada por "estar ou não em uma formatura". O valor da minha aula precisava estar na aula e por isso que foquei em tentar entregar só excelência para essas meninas que hoje são jornalistas.

Eu não sei se foi isso que me faz ter sido escolhido por elas. O que importa, pra mim, é que finalmente cheguei em um lugar que sempre achei que deveria pertencer. Mas agora que estou aqui, noto que esse troféu simbólico é como todos os outros troféus que vão parar na estante e ganhar pó. Hoje fica muito claro pra mim que eu, em todos esses anos, ganhei troféus que não acumulam poeira: cada ex-aluno e ex-aluna que está conquistando seu lugar no mundo, exatamente como eu conquistei quando entrei na sala de aula e exatamente como essas meninas aqui estão conquistando no jornalismo.

Eu demorei mais dez anos para fazer esse discurso. E demorei mais de dez anos para concluir que não há maior homenagem para um professor do que seus alunos encaixados com o universo que escolheram e, como ensina Aristóteles, em estado de Eudamonia, ou seja, felizes.

Obrigado, Khananda, Mayara, Carol, Izabella e todos os meus ex-alunos e ex-alunas por serem os melhores troféus que um professor poderia ter. Não acumulem poeira, busquem a felicidade sempre e nunca se esqueçam:

Conhecimento é conquista!

Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)

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