OPINIÃO

'Refogado do Sândi', muita animação!

04/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Em várias oportunidades escrevi sobre o "Refogado do Sândi". Dediquei um artigo na imprensa local quando o bloco homenageou a amiga Cacilda Romero, excelente cantora. Exaltei também a espontaneidade e a grande animação de seus elementos em crônica publicada numa das antologias anuais da Academia Jundiaiense de Letras. E em diversas oportunidades divulguei reuniões e encontros preparatórios, sempre enaltecendo a genuinidade das propostas defendidas, entre elas, a de realizar um festejo essencialmente popular.

Por viajar muitas vezes nessa época, não cheguei a presenciar todos os seus desfiles que praticamente marcam a abertura do Reinado de Momo em Jundiaí na sexta-feira à tarde. No entanto, nas poucas vezes que participei, fiquei muito satisfeito com o que vi e relembrei de festividades com a inefável doçura dos saudosos tempos passados. Não só pelas marchinhas tradicionais, mas principalmente pela irreverência, malícia e transgressões de regras, tudo com o impacto de valores reais, lastreados num divertimento descompromissado e simples, que constitui a verdadeira essência do Carnaval.

Gosto de recordar, com já fiz outras vezes, que costumava esperar a sua chegada em "A Paulicéa", onde os carnavalescos faziam uma parada estratégica. Os frequentadores dessa casa, capitaneados pelo saudoso Geraldo Bussi e o animado Arlindo Vicente (Peroba), mais Álvaro Costa, costumavam preparar uma feijoada ou bacalhoada para o período de espera. O inesquecível historiador Geraldo Barbosa Tomanick, não deixava de prestigiar os eventos para depois se entusiasmar com os foliões.

Além disso, anualmente se escolhe um tema que varia desde manifestações do senso crítico da população até homenagens a pessoas da comunidade e da própria turma. Efetivamente, desde os seus primórdios, a festa carnavalesca serviu para extravasar sentimentos coletivos, seja na forma de critica dos costumes, seja como expressão de desagrado ou gozação em relação a indivíduos poderosos ou que estejam em evidência. Com esse pessoal também não é diferente. Lembro-me que, em 2002, Muzaiel Feres Muzaiel, com uma mascara do Bin Laden e fantasiado como árabe, dançou de braços dados com o Peroba, vestido de terno e com a máscara do então Presidente Gerald Busch dos Estados Unidos. Uma brincadeira para amenizar o impacto dos atentados no ano anterior naquele País.

Assim, esses encontros autênticos, com cidadãos de todos os setores se misturando numa alegria contagiante, tornaram-se marcas registradas do "Refogado do Sândi", que teve no saudoso Erazê Martinho um de seus mentores, maiores incentivadores e membro atuante, participando em toda a sua estrutura, desde como compositor, até como dançante nas ruas, constituindo-se num líder natural, que incorporava totalmente a alma do bloco e, mesmo que involuntariamente, ditava os trâmites da folia.

Tanto que, em matéria publicada no JJ em 5 de fevereiro em 2014, assinada por Márcia Mazzei, a  diretora do "Refogado", Gisela Andrade Vieira, indicou que "a receita do sucesso vem de seu fundador, Erazê Martinho". Em 9 de novembro de 2013, em homenagem que lhe prestou a Academia Jundiaiense de Letras, a saudosa acadêmica Sônia Cintra assim se expressou: "Erazê, folião autêntico, foi compositor emérito do Bloco Carnavalesco "Estamos na Nossa", da<ctk:-10> Ponte São João, e idealizador, patrono, fundador, eterno presidente do Bloco Carnavalesco "Refogado do Sândi", leg<ctk:-20>ado cultural de inestimável valor à sua terra natal...".

É por isso que, reitero, sua memória é reverenciada naturalmente a cada carnaval, com a própria saída em frente ao Gabinete de Leitura  Ruy Barbosa e cortejo de seus integrantes,  na animação, na autenticidade de propósitos e principalmente, no descomprometimento com o formalismo.

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário, ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas, autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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