OPINIÃO

Sentimentos obscuros - Parte II

01/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

"Vamos ver! Mas então... Vamos por essa casa em ordem?" Disse Regina mudando de assunto. Ela odiava todo esse papo de pensar positivo de Juliana. Pra ela a vida era prática. E vindo de origem simples como a dela, sentia que sua amiga não entendia os perrengues que ela passava.

As amigas ficaram até quase nove da noite tirando coisas de caixas, arrumando em prateleiras.

"Acho que agora falta pouco, Rê. Amanhã eu consigo terminar. Obrigado demais! Vamos tomar um chope? Eu pago!"

"Eu até queria, mas o Ronaldo está me esperando em casa, já fiquei a tarde toda fora."

"Tudo bem, então. A gente se vê na semana?"

"Acho que sim, preciso ver pois estou saindo pra entregar alguns currículos e a Paula ficou de me conseguir uma entrevista na empresa dela na terça ou na quarta."

"A Paula, sua cunhada?"

"Sim, ela mesma. Nunca fui muito com a cara dela, mas acho que eu estava errada. Ela foi uma das poucas que se propôs a me ajudar."

"Viu só? São nesses momentos que mais nos surpreendemos com as pessoas."

"Sim, mas agora vou indo, a gente se fala, amiga."

"Tá bom. Beijos e se cuida."

"Você também."

Enquanto pegava o elevador e se dirigia até a saída, Regina se viu sentindo inveja da amiga. Em como a vida dela era fácil. Mesmo depois de uma separação, dinheiro não era problema. Sua amiga deixou a casa pro marido no acordo de separação, saiu com uma boa grana e alugou um apartamento numa das melhores localizações da cidade. Enquanto ela estava na correria enviando uns duzentos currículos por dia pra tentar arrumar algum emprego que pagasse o mínimo pra conseguir sobreviver em um apartamento da periferia da cidade.

A semana passou e já era terça feira e Juliana tinha conseguido deixar quase tudo em ordem.

Helen, amiga dos tempos da faculdade, foi visitar e levar um presente de boas-vindas pra amiga. Ficaram na sacada bebendo vinho e falando bobagens.

"Helen, você lembra da Regina?"

"Sim, sua amiga que foi madrinha no seu casamento?"

"Isso! Ela mesma."

"Lembro sim, o que tem ela?"

"Então ela é contadora e esta desempregada. Lá na sua empresa não estão contratando?"

"Olha Ju, eu não sei. Mas posso perguntar no RH e te falo."

"Nossa maravilhoso. Se puder fazer esse favor eu vou te agradecer muito. Ela vai ficar bem feliz quando eu contar." Disse Juliana enquanto pegava o celular pra mandar mensagem pra amiga.

"Eu me lembro dela no seu casamento, de como era engraçada. Chama ela pra vir beber conosco."

"Claro. Boa ideia!"

Ei Rê tudo bem?

Lembra da Helen? Minha amiga da facul?

Pois então, ela está aqui e eu perguntei se na empresa dela estão contratando.

Ela disse que vai ver e pediu pra te chamar pra beber com a gente.

Vem pra cá amiga.

Fazer um network e jogar conversa fora

Vai que...

Regina leu a mensagem da amiga e simplesmente ignorou. "Quem a Juliana pensa que é pra ficar mendigando emprego pra mim pra quem eu mal conheço?"

Bloqueou a tela e foi terminar o jantar.

Juliana, vendo que a amiga não respondia, ligou, mas foi novamente ignorada.

"Quem era amor?" Perguntou Ronaldo ao ver o celular da esposa tocar.

"Era a Juliana."

"Você não vai atender?"

"Eu não! Ela deve estar precisando de ajuda com a mudança. Mas no momento tenho preocupações maiores do que louças em caixas e roupas amassadas.

Enquanto isso, na sacada do apartamento de Juliana.

"Ela respondeu?" Perguntou Helen.

"Não, deve estar ocupada."

"Uma pena."

"Sim, mas teremos outras oportunidades. Não esquece de ver a vaga pra ela, tá?"

"Pode deixar amiga, amanhã eu prometo que assim que chegar verei se tem algo pra ela."

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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