OPINIÃO

Epitáfios e resoluções de ano novo

06/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Foi na manhã de terça-feira e com certa ressaca emocional - mas quem não? - do último Natal, a caminho do trabalho para mais uma semana normal de expediente sem emendas clássicas de folgas, pensando sobre os cumprimentos e felicitações pela passagem das festas que acabei não enviando e para quem, que comecei a prestar atenção ao que, coincidência, tocava no rádio do carro.

"...devia ter amado mais, errado mais, me importado menos... Com problemas pequenos..."

Transportei-me para uma viagem existencial naqueles minutos que seguiram comigo a canção "Epitáfio", da banda brasileira Titãs.

Se essa letra representasse o meu próprio epitáfio, num balanço de 2023, o que eu poderia deixar escrito em minha lápide?

E me dispus a uma reflexão honesta, um ticar mental dos trechos da música, não daquilo que não fiz, mas, daquilo que de fato eu me coloquei intencionalmente em um caminho de realizações pessoais. Fui tomada por uma felicidade momentânea sem tamanho. Orgulho de mim por, entre tantas outras coisas, ter basicamente gabaritado (rindo sozinha enquanto escrevo!) a cada mensagem contida nos versos.

Alegria imensa por de fato ter chorado mais, visto o sol nascer e se pôr, arriscado mais, ter feito o que eu queria fazer. Ter aceitado algumas pessoas como elas são e a vida como ela é, e assim me coube também as tristezas, várias delas imensas, que vieram. Só não pude trabalhar menos.

Bonito para cantar, não é, você provavelmente me disse! Mas, e na prática, como funcionou, como foi possível?

Ao contrário da letra, não andei distraída deixando o acaso me proteger e este sim, o exercício mais desafiador que tive.

Valeu para obrigações, rotinas, para planos, ideias e projetos, resoluções lááá do final de 2022 e, sobretudo, para pessoas igualmente.

Daí que, voltando para o primeiro parágrafo deste artigo sobre para quem não desejei tradicionais boas festas, por algumas de fato eu senti uma pontada de enrubescimento. Mas a maioria não e ainda bem.

Por ter andado atenta, assim também estive a quem, ou procurou-me apenas quando precisou de algo que eu lhe fosse convenientemente útil ou realmente não fez questão da minha presença em suas vidas. E, antes que pareça uma queixa, te digo que não é, muito pelo contrário. Aliás, o reverso dessa moeda é completamente possível. Eu também posso ter sido uma ausência sentida.

O melhor presente que se pode dar a alguém é estar presente com presença.

Um dos melhores presentes que podemos proporcionar a nós mesmos é o contínuo aprendizado do desapego saudável. Se as relações em quaisquer âmbitos andam, ou líquidas ou esvaziadas de bem querer sincero e despretensioso, é perfeitamente plausível exercitarmos isto.

E não mais sofrer pela ausência, apenas continuar a desejar a quem se fez distante, com enorme sinceridade, tudo do muito bom em suas vidas.

Certamente meu epitáfio não está completo, mas a parte já escrita até aqui é bastante provável que não mude em meu suspiro final: "...dedicou grande parte de sua vida a viver o presente com presença..." É o mesmo que desejo neste ano que inicia, a você que me lê por este veículo a cada primeiro sábado do mês, embora este não seja um artigo sobre a importância de desejos de feliz navidad!

Márcia Pires é sexóloga e gestora de RH (piresmarcia@msn.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

1 COMENTÁRIOS

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  • Denilson Rogério Oliveira de Lima
    08/01/2024
    excelente música, já ouvi diversas vezes essa musica, pensando e refletindo.