OPINIÃO

O Brasil tem jeito? (Parte 2)

31/12/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Ao olharmos para cidades como Jundiaí, que experimentaram significativo desenvolvimento nas últimas décadas, a resposta à indagação do título poderá ser positiva. No entanto, ao voltarmos nosso olhar para a baixada fluminense, onde dois terços do território são dominados por facções e milícias, surge a dúvida: como ficamos?

A meu ver, a resposta certa para a pergunta que faço no título seria "é possível". Para demonstrar que isso é viável, sugiro a leitura do artigo de Bill Gates, intitulado "Lições de salvamento de vidas no Brasil" (Gates Notes: Lessons in lifesaving from Brazil), que destaca a singularidade do nosso SUS, único no mundo em termos de alcance e gratuidade, assim como outros exemplos de ações mitigatórias nacionais, como o Bolsa Família.

Ou seja, jeito tem, mas vai depender das nossas escolhas, afinal somos nós que colocamos no poder, com nosso voto, as figuras que irão fazer - ou não - o que for preciso para o País sair do grupo das nações periféricas e ingressar na elite das nações desenvolvidas, assegurando com isso a erradicação da fome e uma melhor qualidade de vida para o conjunto da população brasileira.

É óbvio que não podemos fazer tais escolhas, que irão definir o nosso futuro, tomados pela emoção, como se fôssemos torcedores de um time de futebol. Temos de votar com a cabeça fria, analisando os fatos racionalmente, como, por exemplo, um motorista de aplicativo escolhe o seu veículo: checa cuidadosamente o consumo, a durabilidade e outros itens, pois trata-se do seu instrumento de trabalho.

No ano que vem, com as eleições municipais, temos a oportunidade de definir os caminhos que irão tomar as cidades brasileiras e, consequentemente, o rumo nacional.

Para isso, é necessário entender com clareza as causas da nossa situação no presente - uma nação que embora tenha um potencial de crescimento como quase nenhuma outra, parece condenada a ser o eterno "país do futuro", que nunca chega.

Lembro de ter compartilhado em outros artigos que escrevi que antes da chamada Revolução Industrial a economia brasileira era, se não igual, maior do que a dos Estados Unidos. Éramos então, como as demais nações de relevo, um país agrário e mercantilista. Fomos para a rabeira por ter o olhar voltado para o passado e resistir às mudanças exigidas, na economia e nos costumes, pela nova era que então se iniciava. As nações que mantinham o olhar voltado para o futuro entraram na corrida pelo novo, a industrialização. E com isso asseguraram sua posição no pelotão das nações desenvolvidas.

Os que então dirigiam a nação, ao invés de fazer o que propunha o Barão de Mauá (investir na nova economia baseada na industrialização), resolveram, de caso pensado, não se meter com essa novidade.

Por que tomaram essa decisão? Por que, ao longo da nossa história, até hoje, nos recusamos a aceitar as mudanças exigidas, seja nos costumes, seja nas decisões econômicas, para fazer o nosso País avançar? O divórcio, por exemplo, teve de tramitar por 40 longos anos para ser aprovado. O fim da escravidão aqui ocorreu 50 anos depois de ser extinta na Inglaterra.

Quem tem um diagnóstico preciso para a causa desses desacertos é a economista Zeina Latif: temos o olhar voltado para o passado.

E aí está também a solução: temos de voltar o olhar para o futuro, ainda mais porque nosso potencial nesta nova frente, a chamada Economia Verde, é único no mundo, por uma razão fácil de entender: nossa matriz energética é majoritariamente assentada em usinas hidrelétricas e eólicas, ou seja, em recursos renováveis e não poluentes, e temos biomas - como a floresta amazônica - capazes de sequestrar carbono como nenhum outro país no mundo.

Os municípios têm um papel central na promoção desse avanço. E para isso temos, com as eleições municipais do ano que vem, uma oportunidade única para começar a dar essa guinada, aproveitando nossos recursos naturais - geradores de riqueza - para assegurar um lugar no topo da Economia do Futuro, a Economia Verde.

Cabe ao eleitor, no caso o munícipe, ter como critério, na sua escolha, o comprometimento com essa agenda. Esse é o caminho para tornarmos o país do futuro agora.

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí (miguelmhaddad@gmail.com).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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