OPINIÃO

Vem chegando o aniversário de Jesus

10/12/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A época natalina se constitui num momento de poesia e ternura para uns; de reflexão e fraternidade para outros. Há os que não encontram nenhum sentido na data e àqueles que, confinados nos aspectos dominantes impostos pelo "marketing" consumista, só se preocupam com suas satisfações pessoais.

No entanto, faltando quinze dias para o Natal, mais do que só comprar presentes e encher a geladeira de comes e bebes, é necessário cultivar a espiritualidade e a prática social da solidariedade que ajuda a transformar a sociedade. Evidente que não sou contra o aspecto comercial que é importante inclusive para o desenvolvimento do país. Entendo, no entanto, que outras circunstâncias também devem ser observadas em razão do próprio sentido da data.

A celebração do Natal necessita ser assumida essencialmente naquilo que lhe é peculiar, ou seja, na força do amor que o Cristo, filho de Deus encarnado, trouxe a Terra. Convida-nos à conversão, que traduz sair de nós, das nossas comodidades e ambições, para colocar-nos na trilha dos desamparados, oprimidos e perseguidos. Desperta à partilha, à convivência pacífica e ao respeito ao próximo.

Assim, a sua comemoração litúrgica se revela num momento especial para renovarmos nossa fé e descobrirmos a dignidade de cada pessoa, mesmo porque, nascendo entre nós, Jesus nos mostrou seu desejo de entrar em comunhão conosco para mostrar que todos podem e devem igualmente satisfazer seus direitos e aspirações fundamentais.

Enquanto nossa sociedade se caracterizar pela ganância, pelo egoísmo e pelo poder, os conflitos entre as pessoas tenderão a persistir e a esperança, a diminuir, construindo-se relações embasadas na dúvida, no medo e até no terror. São inúmeros os acontecimentos e os comportamentos que demonstram o desvirtuamento dos valores e a prevalência da desigualdade social, propulsores de um triste e desolador quadro de manifestas injustiças. E diante de uma cultura de consumação, geram-se manifestações de desânimo daqueles que ainda sonham, buscam e lutam pelo bem comum, que felizmente são afastadas pelo empenho na concretização de seus ideais.

Desta forma, o sentido mais profundo do Natal precisa estar presente no pensamento e no coração das pessoas: extinguir a marginalidade e a exclusão com a certeza de que a paz, a liberdade e a verdade são possíveis; que o ser humano é o valor máximo a ser respeitado, resgatado e conduzido à felicidade, devolvendo a todos o direito de viver e de participar dos bens de Deus. Por isso, façamos dele, uma festa permanente, capaz de renovar para todos, sem quaisquer distinções, a esperança de tempos melhores e dias mais felizes.

Em 1901, Machado de Assis já proclamava em seu "Soneto de Natal": "Um homem, — era aquela noite amiga. Noite cristã, berço no Nazareno, —/Ao relembrar os dias de pequeno,/ E a viva dança, e a lépida cantiga,/Quis transportar ao verso doce e ameno/As sensações da sua idade antiga,/Naquela mesma velha noite amiga,/Noite cristã, berço do Nazareno./Escolheu o soneto... A folha branca/Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,/A pena não acode ao gesto seu./E, em vão lutando contra o metro adverso,/Só lhe saiu este pequeno verso:/ "Mudaria o Natal ou mudei eu?".

"O Natal é tempo de saudade", escreveu Fernando Pessoa: "Natal... Na província neva. / Nos lares aconchegados, / Um sentimento conserva/ Os sentimentos passados."

"São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo" (Cecília Meireles, "Compras de Natal").

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor universitário e ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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