A Misofonia é um distúrbio auditivo que se caracteriza pela extrema sensibilidade a sons específicos, muitas vezes considerados normais por outras pessoas. Esses sons podem desencadear reações emocionais negativas e intensas, como raiva, ansiedade e irritação.
Conforme explica o psicólogo Felipe Adaniya, "os sons que desencadeiam essas reações podem variar de pessoa para pessoa, como a mastigação, a respiração, os sons de ventilador, entre outros".
Segundo a publicação científica Current Biology, a parte do cérebro que une nossas sensações com nossas emoções, o córtex insular anterior, está excessivamente ativa em momentos de Misofonia. Em pessoas que sofrem dessa condição e que participaram de uma pesquisa feita pela publicação, as conexões e interações com outras partes do cérebro se dão de forma diferente.
A condição tem ficado cada vez mais comum. Estima-se que, todos os anos, cerca de 150 mil pessoas recebem o mesmo diagnóstico no Brasil. Em todo o mundo, 15% dos adultos sofrem com a Misofonia, de acordo com o Misophonia Institute.
A identificação da condição se deve à observação de alguns sintomas, como comenta o psicólogo Adaniya. "A identificação da Misofonia envolve a observação e análise de alguns sintomas como reações emocionais desproporcionais e intensas a sons específicos, resposta de luta ou fuga para evitar ou se distanciar do som causador de incômodo, presença de impactos negativos na qualidade de vida, relacionamentos sociais e saúde mental."
"Sem causas definidas até o momento, há indícios de que seja um problema hereditário que pode aparecer já na infância ou na adolescência", pontua o psicólogo. "A Misofonia não está atualmente associada a outras doenças específicas, mas pode coexistir com outros distúrbios de saúde mental, como ansiedade, depressão ou transtorno obsessivo-compulsivo", completa.
Conforme Adaniya, não existe uma cura definitiva para a Misofonia, mas várias abordagens podem ajudar a gerenciar os sintomas, sendo elas:
-Terapia de dessensibilização: envolve a exposição gradual a sons desencadeadores, com o objetivo de diminuir a resposta emocional negativa.
-Terapia cognitivo-comportamental (TCC): a TCC pode ajudar a pessoa a desenvolver estratégias para lidar com as reações emocionais intensas em relação aos sons.
-Uso de dispositivos de cancelamento de ruído: fones de ouvido com cancelamento de ruído podem ajudar a minimizar a exposição aos sons incômodos.
-Medicamentos: em alguns casos, medicamentos podem ser prescritos para controlar a ansiedade e os sintomas emocionais relacionados à Misofonia.
Felipe ainda comenta as dificuldades enfrentadas por quem sofre da condição. "Pode levar a pessoa a ter um isolamento social, dificuldade de interação, principalmente em ambientes barulhentos. Também o desconforto pela necessidade de uso de equipamentos ou acessórios que eliminem ou torne mais fácil de administrar as reações geradas pelos sons." Outros pontos colocados pelo profissional são o impacto na produtividade, por conta do estresse gerado e pela dificuldade de concentração, problemas para dormir, gerando fadiga, cansaço e mais dificuldade na gestão do humor. "O acompanhamento de profissionais de saúde mental e especialistas em som também pode fazer parte da rotina para lidar com a condição."