Opinião

Retomar os sentimentos puros da infância

08/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Na roda do mundo,/ mãos dadas aos homens,/ lá vai o menino/ rodando e cantando/ cantigas que façam/ o mundo mais manso,/ cantigas que façam/ a vida mais doce,/ cantigas que façam / os homens crianças"(Thiago de Mello). O poeta lembra que os anos da infância se constituem numa época inesquecível, onde o coração ignora a maldade e o egoísmo, tornando a criança o símbolo do amor e da paz.

No entanto, o que os menores de hoje pedem é apenas o direito de serem como tais. Em todos os lugares, têm o mesmo anseio e uma necessidade básica: - viver com tranqüilidade esse tempo de encantamento. Com efeito, atualmente por uma série de circunstâncias, são privados de liberdade, quando nesta fase o ir e vir se faz extremamente necessário. A fragilidade da Segurança Pública impede de saírem como ocorria antigamente. Já não crescem brincando com os vizinhos nas ruas e não vêem os seus pais conversando sentados nas calçadas. Há uma grande ausência de afeto provocada pela cultura consumista.

A necessidade desenfreada de obter recursos financeiros acaba dificultando a convivência familiar. Sentem, por isso, um clima de indiferença entre os indivíduos. Suas distrações, muitas vezes, resumem-se a frias imagens de TV e dos computadores. Há os que são desprovidos das mínimas condições de dignidade, ou seja, alimentação, habitação, lazer e educação. Falta-lhes em muitos casos, respeito à própria integridade física ou a sua situação como seres humanos.

"Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais" – diz o poema da Casimiro de Abreu, retratando a importância deste período na vida de cada cidadão. Por ocasião do Dia da Criança, 12 de outubro, quinta-feira próxima, vale dizer que toda criança precisa hoje é de muita atenção do Estado, da família e da sociedade – determinação contida na própria Constituição Federal do Brasil - e tempo para se divertir sadiamente.

É preciso que os adultos retomem os sentimentos puros da infância, conscientizem destes aspectos e procurem construir um mundo melhor para abrigar os futuros homens de amanhã. Na verdade, talvez seja esse o maior desafio ao nosso tempo, formar menores felizes, que se tornarão também maiores felizes.

O estado de abandono em que se encontra a infância e a adolescência em nosso país, é manifestamente nítido. Diante deste triste quadro, tanto o Poder Público como a sociedade em geral, têm feito muito pouco para modificá-lo. Esperamos por isso que, aproveitando o momento da celebração do dia doze de outubro, deixemos de lado o costumeiro comodismo e comecemos a dar uma resposta ao problema, promovendo uma ampla mobilização no sentido de efetivarmos trabalhos com a população carente, buscando suprir as sempre deficientes políticas sociais do Estado e alcançarmos uma inclusão de convivência maior e mais justa. Todavia, reitere-se que, apesar destas iniciativas emergências, as necessárias mudanças só ocorrerão e se estruturarão definitivamente se for dada maior atenção à educação, saúde e a um modelo econômico que resulte num desenvolvimento baseado em correta distribuição de renda.

No dia 12 de outubro, para os católicos há uma outra celebração, o DIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA, Padroeira do Brasil, junto com o Dia das Crianças. Duas festividades numa mesma data que nos inspira a refletir sobre a importância de formarmos crianças felizes, que se tornarão adultos felizes, equilibrando a ordem social. Da mesma forma, indica a relevância de reverenciarmos os valores cristãos, humanos e familiares, sem os quais é impossível construir uma sociedade fraterna e solidária, capaz de operar as necessárias transformações sociais.

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor universitário e ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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