Opinião

Pequenez e pobreza

05/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face me é muito querida e intercessora desde a infância. Influência primeira de meus pais, com histórias bonitas de devoção e graças alcançadas na família; episódios com pétalas de rosas mesmo nos momentos de sofrimento. Em seguida, meu fervor a ela cresceu a partir do Carmelo São José e, em especial, da inesquecível Madre Mestra, minha mãezinha espiritual, Irmã Maria Inês do Menino Jesus, no mundo Odette Trippe (1928-2015).

Em cada época, uma colocação de Santa Teresinha ou um acontecimento de sua vida me toca mais. A partir do Padre Márcio Felipe de Souza Alves, meu diretor espiritual, veio-me, de maneira mais forte, o que escreveu a Santa de Liseaux sobre aquilo que agrada Deus: que ela ame sua pequenez e pobreza. Um despojar-se inteiramente da soberba, da vanglória... Difícil. Se me reconheço pequena e pobre, o Senhor pode me preencher dEle.

Há uma música, "O que agrada a Deus/Meu Tudo", cantada por Ziza Fernandes – ouvi pela primeira vez através do Padre Márcio Felipe -, que proclama: "O que agrada a Deus/ Em minha pequena alma/ É que eu ame minha pequenez/E minha pobreza. / É a esperança cega/ Que tenho em sua misericórdia. / Senhor meu/ Meu tudo/ Meu Mestre/ Te adorarei..."

Li, do Frei João Costa, no Boletim de Espiritualidade no. 112 – 1º./10/ 2023, da Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal, que Santa Teresinha continua a seduzir gerações e destaca três ensinamentos relevantes em especial às mulheres nos dias de hoje.

Na infância, fazia tanta birra que chegava a perder a respiração. Crescida, aprendeu a arte da empatia, ao deduzir que, em todo lugar, existem contrariedades e pessoas difíceis. Tornou-se tão consciente do seu valor, que conseguiu deixar de valorizar as opiniões negativas a seu respeito, tratando de tal forma as pessoas antipáticas, que estas passavam a crer-se as mais estimadas por ela.

Injustamente acusada, por pequenas coisas, no convento, calava-se e focava-se em fazer o seu trabalho o melhor que podia. Diz o autor do artigo: "Por que falar para se defender, se mais valem as ações que as palavras".

Em terceiro lugar, percebeu que não vale a pena desperdiçar energias e que o caminho do amor é o caminho certo, é a força invencível dos sem forças. Como destaca Frei João: "O campo que mais urge semear e cuidar é o coração humano porque é ali que se tomam as decisões que definem a vida. Compreendeu que, nos abismos das fraquezas ou no cumes da perfeição, o mais importante é ter um coração aberto e disponível a Deus, para que Ele tudo faça e tudo transforme em Seu amor. Compreendeu, enfim, a força admirável da troca de (...) nosso tudo (que, na verdade, é nada) pelo tudo de Deus, que na verdade é Tudo.

Santa Teresinha escolhia amar os que podiam lhe causar repulsa, porque amor não é um sentimento, é uma atitude. Era convicta de que uma pessoa difícil só pode nos prejudicar se nós nos permitirmos, pois a bondade pode transformá-las.

Atualmente não busco nela milagres, mas que interceda por mim com o propósito de que eu viva de amor, como escreveu em seu poema: "Viver de amor, Senhor, é Te guardar em mim (...) Viver de amor é viver da Tua vida. (...) É subir o Calvário com Jesus, / Como um tesouro olhar a cruz!"

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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