Opinião

TEDxJundiaí: nasce um novo território

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No último sábado (30), uma plateia de cerca de cem pessoas acompanhou oito falas no primeiro TEDxJundiaí. O tema escolhido para inaugurar as palestras TED (Tecnologia, Entretenimento e Design) na Terra da Uva foi o dos "Territórios", o que significou uma tarde cheia de histórias sobre os vários territórios que permeiam a cidade e as pessoas.

Lembro bem do dia que recebi um telefonema de um empolgado Rafael Testa me contando a novidade do ano: "Vamos ter um TEDx aqui em Jundiaí, fera!". A minha surpresa só não foi maior do que a minha empolgação. Eu conhecia o TED de outros carnavais e sabia muito bem o que significava ter uma edição por aqui.

De modo geral e bem resumido, o TED tem como premissa a disseminação de ideias a partir de vídeos curtos realizados em todo o mundo. E eu o conheci por causa de um professor de inglês que, para me ajudar com minha capacidade em entender o idioma falado, me incentivou a assistir algumas dessas palestras e resumi-las em seguida.

Pude conhecer histórias e ideias fantásticas, desde a mais simples do mundo como a do Terry Moore que ensina o jeito certo de amarrar os sapatos em um vídeo de menos de três minutos, até ideias mais complexas como a do brasileiro Thiago Mundano que, em inglês, explicou seu projeto de pintar arte nas carroças dos catadores de material reciclável dos grandes centros urbanos do Brasil.

Eu jamais imaginaria que um dia eu veria uma palestra TED na minha cidade, só que mal sabia eu que o Rafael, organizador do TEDxJundiaí, junto com Tainan Franco e uma porção de gente competente (que não ousarei a nomear para não correr o risco de esquecer ninguém), me convidaria para fazer parte da equipe que colocaria esse projeto de pé.

Após meses de muito trabalho - desde os detalhes mais minuciosos até a escolha dos palestrantes -, chegou o dia de ver todo o esforço materializado no palco do Espaço Expressa, no Complexo Fepasa, em Jundiaí.

O primeiro speaker (palestrante TED) a subir no palco foi Sinésio Sacarabello, gestor de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura de Jundiaí, que nos deu uma verdadeira aula sobre um dos maiores patrimônios da nossa cidade: a Serra do Japi. Na sequência, Deh Bastos, fundadora do Projeto Criando Crianças Pretas, trouxe para a plateia uma reflexão valiosa sobre letramento racial.

A terceira palestra foi de Vânia Feitosa, especialista em gestão cultural, levou alguns insights frutos de seus diversos projetos, incluindo o "Se meu bairro falasse", uma iniciativa inovadora que convida à reflexão sobre o patrimônio cultural e histórico das cidades. O território dos esportes foi o que veio na sequência com Rudá Franco, ex-atleta olímpico da seleção brasileira de polo aquático, compartilhou suas experiências, desafios e, sobretudo, como o esporte pode ser uma ferramenta poderosa de mudança social e pessoal.

E antes do intervalo, Katú Mirim, indígena e rapper, apresentou um olhar íntimo e desafiador sobre como a cultura e a tradição indígena podem ser mantidas e redefinidas em ambientes urbanos, abordando questões críticas como o tratamento dos povos indígenas no Brasil e sua história pessoal de retomada.

Durante o intervalo, pude observar o público discutindo as palestras recém-apresentadas. O sentimento de satisfação estava no ar, mas ainda faltavam três palestras e o melhor ainda estaria por vir.

Marcelo Fattori, advogado especializado em Direito Digital, trouxe ideias inovadoras e urgentes sobre proteção de dados pessoais na era digital, dando atenção especial aos dados de crianças e adolescentes. Para encerrar, Carlinhos Faustini, professor de dança que atua nas áreas de ballet clássico, jazz e dança contemporânea e pioneiro no campo da inclusão, trabalhando com dança para pessoas com deficiência. Encerrou sua participação com uma linda dança com um cadeirante. E logo depois, Camila Tamara Rosolem e sua mãe, Tania Rosolem, encerraram o TED com uma dança intitulada "Cordão Umbilical".

Só que o meu destaque fica para a palestra de Samy Fortes, ativista fervorosa da causa da população TT (travestis e transexuais) e fundadora e presidenta do Centro de Apoio e Inclusão Social para Travestis, Transexuais e pessoas em situação de vulnerabilidade de Jundiaí e região, o CAIS-Jundiaí. De uma maneira emocionante, ela (que também estava emocionada) contou sua trajetória de vida e arrancou lágrimas da plateia, inclusive minhas.

O TEDxJundiaí abriu um novo espaço na cidade. Um espaço de diálogo, compartilhamentos de experiências e multiplicação de ideias. E isso é um território vasto e poderoso para a construção do conhecimento.

E conhecimento é conquista.

Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)

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