Por que é relevante pensar sobre como decidimos? Por incrível que pareça, tomamos a decisão sobre qual hospital faremos uma cirurgia complexa da mesma forma que decidimos o sabor do sorvete que tomamos numa tarde de calor. Se a tomada de decisão é a única coisa que temos controle, então parece importante discutir o tema.
Cheryl Strauss Einhorn é professora da Universidade de Cornell nos EUA e autora do livro "Solucionador de Problemas: Maximizando Seus Pontos Fortes para Tomar Melhores Decisões". Em um artigo publicado na Stanford Social Innovation Review, ela cita os 5 perfis que identificou em suas pesquisas: Aventureiros, Detetives, Ouvintes, Pensadores e Visionários. À primeira vista, parece um assunto específico para lideranças, mas ao saber que tomamos mais de 400 mil decisões diárias, o assunto passa a ser relevante para qualquer um.
Segundo a autora, "os aventureiros tendem a seguir suas reações instintivas; os detetives gostam de seguir os dados; os ouvintes gostam de solicitar a opinião de outras pessoas; os pensadores gostam de identificar múltiplos caminhos e resultados; e os visionários se orgulham de ver caminhos que outros não conseguem". Considerando que o pertencimento e a identidade coletiva são institutos humanos básicos, logo ao identificar nosso arquétipo de tomada de decisão, temos a oportunidade de observar e trabalhar na transformação que gostaríamos de ver em nós mesmos, seja ela perder 5 kg ou exercitar estados mentais pacíficos.
Einhorn enfatiza algo que outros grandes cientistas já destacaram: "nossas decisões são a única coisa sobre a qual realmente temos controle". E é surpreendente que em nenhum momento de nossa educação, a não ser em cursos bem específicos, nos deparamos com essa discussão. Aprendemos a decidir observando os próximos, sem muita consciência a respeito.
A tendência é que tomemos decisões da mais simples à mais complexa da mesma forma, a partir de padrões mentais previamente desenvolvidos, a partir da análise de nossa bagagem de vida, de nossas memórias ou pelo que Daniel Kahneman chama de heurísticas, como se fossem atalhos mentais. Não se trata de um processo simples e nos toma muita energia, talvez por isso muitas das 400 mil vezes permitimos que outras pessoas tomem a decisão por nós.
Considerando ainda a enxurrada de informações à qual estamos continuamente expostos, se somarmos à nossa voz interior que processa essa informação e nos sugere a decisão, decidir tem se tornado causa de elevados níveis de estresse. Não à toa que Steve Jobs sempre usava as mesmas roupas, ou que grandes executivos delegam suas decisões corriqueiras (a partir de determinadas diretrizes) para outras pessoas.
Buscar ferramentas para observar nossos padrões mentais pode ser um belo caminho para transformar nossa vida, promovendo relacionamentos positivos, ambientes estimulantes e que nos proporcionem experiências de aprendizagem ricas que nos ajudem a enfrentar melhor os desafios da vida.
Elisa Carlos é engenheira, especialista em inovação e head de operação de uma instituição que desenvolve política pública nacional (elisaecp@gmail.com)