Opinião

No calor, desigualdade social aflora

26/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Nos últimos dias do inverno no Brasil, um tsunami de calor atingiu violentamente o nosso País, e fez aflorar ainda mais contrastes sociais que dizem respeito à diferença da condição financeira das famílias espalhadas pelo Brasil. Enquanto parte da população está fritando debaixo de lajes baixas, telhas que aquecem como um forno e cômodos sem qualquer ventilação, há o contraste com as residências de luxo, com pé direito de 6 metros e excelente canalização de vento, sem falar daquelas climatizadas.

É sabido que a infraestrutura das cidades também não ajuda a diminuir a sensação térmica, visto que algumas delas são verdadeiros aglomerados desordenados de prédios, sem qualquer arborização, ou seja, cresceram sem planejamento, prejudicando a circulação das correntes de vento, trazendo maior sofrimento, logicamente, para as famílias de renda baixa.

A onda de calor que estamos enfrentando é tão séria que o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) emitiu alerta de "grande perigo" para uma área localizada entre 09 estados brasileiros, onde por exemplo, na cidade de São Paulo os termômetros já atingiram 36,8º, recorde de temperatura para o período. E até hoje ainda estamos sofrendo com esse tsunami de calor.

Destaco como relevante que, enquanto algumas famílias fazem um verdadeiro malabarismo para comprar um ventilador, parcelado de 12 vezes no cartão de crédito e a preocupação gira em torno do aumento do consumo de energia elétrica em razão do tempo de uso do ventilador, outras famílias abastadas climatizam a casa inteira, ou seja, no calor ou no frio intenso só sentem a variação de temperatura quando saem de casa e o que menos importa é o valor da conta. E a conta não bate!

Observo assim que o calor não é experimentado da mesma maneira por todas as famílias brasileiras, primeiramente em razão da condição da moradia e principalmente pela condição financeira, que é fator relevante na sensação térmica que cada uma vai sentir na pele.

Vale refletir que a residência de uma família onde algum dos membros esteja desempregado e que num único cômodo abriga 5 pessoas, a situação ainda é mais precária, pois tem hora que a sensação térmica está tão alta que o ambiente se torna quase inabitável e o ventilador só serve para soprar vento quente sobre as pessoas.

Infelizmente, essa é a realidade da maioria das famílias brasileiras que está na linha de frente do tsunami de calor, ligando um alerta vermelho diante desse fenômeno meteorológico de intensidade excepcional, com probabilidade de grandes danos e acidentes, colocando em risco a integridade física ou mesmo a vida humana.

A vulnerabilidade da população mais pobre do Brasil é preocupante, deixando outro alerta agora para as autoridades, a fim de que haja maior conscientização quando forem planejados novos assentamentos urbanos, pensando nas condições internas das moradias, num razoável escoamento de ar, na arborização as proximidades, com foco permanente na saúde e no bem-estar dos moradores, minimizando os efeitos da desigualdade social que aflige o nosso país.

José Roberto Charone é advogado (charoneadvogados.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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