Opinião

Feeling Good

14/09/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A vida e seus paradoxos...

Toda vez que ele ouvia "Feeling Good", do Michael Bublé, ele lembrava dela. Vários sentimentos vinham à tona. Tristeza, arrependimento... Esses sentimentos descreviam melhor o que se passava dentro de seu peito.

A próxima música da lista deveria ser "That's Life", do Frank Sinatra. Esta sim estava mais alinhada com sua nova realidade.

A história deles começou assim, de forma inusitada. Ele se apegava à ideia de que grandes coisas acontecem assim do nada.

Vale também para amores!

Se conheceram na Starbucks. Ela pediu um frappuccino gelado. Ele um Mocca.

Ouviu ela reclamar que seu café estava ruim. Quando viu já havia comentado:

"Esses cafés gelados daqui são horríveis. Se gosta de bebidas adocicadas peça um cappuccino chocolate. Não tem erro!"

Ela olhou sem entender o rapaz que brincava de sommelier de Starbucks às nove da manhã. Mas resolveu dar corda.

"Ah é? Eu até poderia seguir seu conselho, mas é que minha mãe me ensinou a não ouvir estranhos que ficam escutando a conversa alheia."

"Na verdade, você estava falando sozinha, resolvi interagir para que não parecesse maluca."

"Eu nem te conheço e você já vem me chamando de maluca? Vai pro inferno!" Disse ela com o rosto levemente avermelhado. Talvez por ter as maçãs do rosto irrigadas de sangue pela raiva que sentiu pelo abuso do garoto.

Ele ficou sem entender a situação, sem graça ao ver as pessoas olhando-a se levantar e sair pisando forte. O frappuccino foi ao chão e o rapaz em direção a porta.

"Ei, me desculpe, eu só quis ser legal." Disse ele apressando o passo para chegar até ela.

"Lamento informar, mas você não foi."

"Nem sempre a gente acerta. Podemos começar de novo?"

"E como seria esse começar de novo?"

"Eu tinha pensando em me apresentar e perguntar onde trabalha ou qualquer uma dessas coisas, mas, olhando para você agora, pensei em outra coisa."

E assim finalizou a frase, aproximando os lábios em direção a um beijo, desses de cinema. Não pelo glamour ou por ser a Margot Robbie ou qualquer outra atriz holliwoodana, mas sim por se beijarem assim em plena avenida com inúmeras pessoas passando, como se fossem figurantes de um filme da tela quente.

"Acho que gosto mais desse começo..." Falou enquanto passava o dedo no canto da boca, na esperança de retocar o batom.

"Eu também, mas agora preciso ir. Me passa seu telefone?"

"Por que não me encontra aqui amanhã no mesmo horário? Aí eu experimento o cappuccino chocolate."

"Combinado!"

E um café virou dois, que virou três, que virou rotina matinal...

A rotina matinal se estendeu pela noite, um jantar no restaurante preferido dela. O café deu lugar ao vinho.

Resolveram estender a noite. O papo fluía, e tinha uma garrafa de EA Cartuxa à espera de um momento para ser aberta.

Chegou o momento, ela era o momento!

No caminho de volta, Michael Bublé cantava "Feeling Good". A lembrança fez desta música a canção do casal.

Mas agora, embalado pela saudade, essa música não lhe faz sentir bem.

Trocou o vinho pela vodca e o Jazz pelo silêncio.

O desejo é que ela apareça, seja por mensagem ou em sua porta.

A esperança é a última que morre, mas um dia... Até ela morre.

Eterna mesmo é só a saudade.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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