OPINIÃO

Home Office Cristão

24/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Na semana passada fiz uma nova tatuagem. A décima!

Dizem que tatuagem tem que ser em número ímpar. Só pra contrariar fiquei com número par. Sou desses…

Essa tatuagem era uma que já queria ter feito há um tempo.

A medalha de São Bento.

Sempre me apeguei muito ao significado. A medalha tem as iniciais que remetem a oração do santo:

"A Cruz Sagrada seja minha luz, não seja o dragão meu guia, retira-te satanás, nunca me aconselhe coisas vãs, é mau que tu me ofereces, bebe tu mesmo do teu veneno."

Conheci a oração quando ainda era católico.

O tempo passou e meus encontros no decorrer da vida não me afastaram da minha fé cristã, mas me tornaram cético em relação à religião. Creio que não preciso ir à igreja para crer em Deus.

E acredito ainda que fé é algo muito pessoal, e se isso me traz paz é o que importa.

Enquanto o tatuador preparava os equipamentos para iniciar o trabalho ele comentou comigo que teve a curiosidade de pesquisar sobre o símbolo e que ficou impressionado com o significado. Disse ainda que era evangélico, mas que admirava muito a fé dos católicos.

Eu disse que eu também e ele riu sem entender.

"Como assim você também? Você não é católico?" Perguntou ele confuso.

"Não! Sou apenas um cristão que decidiu viver uma fé à la carte, assim, igual a buffet mesmo, escolhendo o que conforta meu coração."

A cara que ele me fez já vi por inúmeras vezes, sempre que tento explicar minhas ideologias religiosas. Ou melhor, minhas convicções.

Afinal de contas, foram elas que me afastaram do conceito de religião, de precisar ir a um templo para poder me encontrar com Deus.

Eu aprendi no catecismo que Deus é onipresente. E sendo assim ele está em todos os lugares. Inclusive ao meu lado enquanto escrevo este texto.

Se ele já está aqui, por que sair? Prefiro rezar de casa.

Home Office cristão.

Não consigo seguir um roteiro pré-estabelecido para alcançar a graça de Deus.

É como eu disse: fé é algo pessoal.

Vejo que a minha está diretamente ligada com tudo que já vivi, já senti.

Me faltam palavras. Me falta interesse.

Nem tudo precisa ser explicado...

Deus escreve certo por linhas tortas. É o que dizem.

Não acredito muito nessa lógica parksoniana de um Deus que treme a caneta. Acho que está mais para nós tentando a todo custo entender, o que creio que nunca conseguiremos.

De novo, coisas da minha cabeça.

Mas foi divertido perceber a confusão que se formou na cabeça do tatuador. Fiquei até com medo que ele errasse o traço.

Mas não, o desenho ficou perfeito!

Fico feliz de carregar esse desenho comigo. De carregar no peito algo que eu acredito. Mesmo que o mundo não consiga entender minha fé.

Minha lógica sem lógica.

Religião não se discute. Minha vó dizia.

Bem... Acho até que se discute.

Difícil mesmo é entender o que passa na mente de cada um.

Difícil mesmo é entender que não é para ser entendido.

Difícil mesmo é expressar a fé sem julgamento.

Seja por uma palavra, um gesto ou um desenho.

No papel ou na pele.

Não faz diferença.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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