ALÉM DO PADRÃO

Modelo com síndrome de down é vanguarda nas passarelas

Por Rafaela Silva Ferreira | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação
Maju é uma jovem modelo com síndrome de down, que vem conquistando atenção
Maju é uma jovem modelo com síndrome de down, que vem conquistando atenção

No mundo da moda, onde os padrões muitas vezes parecem rígidos e implacáveis, surge Maria Júlia de Araújo Dias, 21 anos. Modelo com Síndrome de Down, Maju está conquistando a atenção e os corações de muitos, ao ser destaque em publicações renomadas como “Vogue”, “Caras” e, mais recentemente, na cobiçada lista “Forbes Under 30”.

Desde cedo, Maju mostrou uma determinação e paixão pela moda, que a levaram a desafiar as expectativas e superar obstáculos. Ela se tornou uma inspiração para muitos jovens que buscam se expressar sem medo de serem autênticos.

“Nasci no ano de 2002 e minha Síndrome de Down só foi diagnosticada depois do nascimento. Há 21 anos, assuntos como inclusão não eram tão valorizados, então a realidade era bem diferente. Cresci ouvindo muitas negativas lá fora, mas em casa minha família sempre fez o trabalho oposto, de me ensinar sobre auto amor, valorização de potenciais e empoderamento!”

Desde criança a modelo ama câmeras, espelhos e tudo relacionado à moda. Quando as redes sociais começaram a surgir, ela “entrou na onda”. “Foi quando travava uma batalha contra um quadro de meningite que eu e minha mãe decidimos que, saindo daquela situação, investiríamos na minha carreira de modelo. Hoje, sou uma modelo internacional que representa o nosso país e também a comunidade de pessoas com deficiência na moda e no mundo. Me tornei “Forbes Under30” e fui destaque da edição no ano de 2021.”

O destaque de Maria Júlia nas páginas da Forbes não só redefiniu os cânones de beleza na indústria da moda, mas também enviou uma mensagem poderosa sobre inclusão e diversidade. “Não é algo só meu ou pra mim, mas para todas as pessoas que tem um propósito e buscam realizá-lo. É uma missão de vida poder lutar pela mudança na nossa sociedade e nesse meio da moda, que já foi tão restrito e padronizado. É uma alegria gigante poder compartilhar isso com outras pessoas!”

No entanto, sua jornada não para por aí. Maju pontua que todo passo é muito importante. “Cada entrada na passarela, cada capa… Para alguém que esteve à margem da sociedade, poder ocupar esses espaços é um momento memorável!” Em relação aos desafios, o pioneirismo é a solução. “Tento usar meu lugar nesse meio no Brasil para preparar o terreno para as pessoas que virão depois de mim. Lidar com alguns desafios nem sempre é fácil, mas ver a mudança acontecer depois que contornamos a situação é gratificante.”

PRECONCEITO 

Quanto ao preconceito que já enfrentou em sua carreira, a modelo revela que essas atitudes aparecem de muitas maneiras. “Nem sempre será um comentário ofensivo ou um ato de violência. Muitas vezes é a falta de valorização de um profissional por conta de sua deficiência, na diferença de oportunidades, nas cobranças injustas. É muito difícil lidar com situações assim quando já vivemos a vida toda lutando contra tudo isso. Mas, como reconheço que minha presença neste meio é importante para o futuro e novas gerações, tento aproveitar ao máximo as chances de ajudar a transformar o pensamento das pessoas.”

Quanto à indústria da moda em relação à inclusão, Maju é sincera nas palavras. “Ainda estamos muito distantes do que temos como ideal de inclusão. Enquanto você precisar forçar sua entrada em alguns espaços, esse lugar não será genuinamente inclusivo. Já precisei ‘bater o pé’ várias vezes pra conseguir chegar a alguns espaços e depois a imagem que ficava é de que tinham me feito um favor. Isso não é uma inclusão verdadeira. Estamos começando uma mudança colocando pessoas reais nesse meio, mas a porcentagem de diversidade ainda é muito baixa.”

POR TRÁS DA MODELO… 

Há uma jovem que também coleciona interesses e paixões. “Eu amo atuar e cantar! Desde criança sempre amei um palco e uma câmera. Tenho essa alma de artista e são coisas que quero estudar, mesmo que só pelo prazer.”

Carioca que “vive de projetos”, a jovem comenta sobre alguns que já estão em sua agenda. “Estamos sempre buscando realizar eventos e desfiles inclusivos! Sobre um projeto que surgiu recentemente, estou começando a tirar minha habilitação, um sonho antigo que finalmente vou colocar em prática.”

Para finalizar, Maju deixa um conselho para pessoas com Síndrome de Down e que têm aspirações profissionais e artísticas: “Agarrem essas aspirações e as entendam como propósito de vida! O mundo às vezes tenta nos fazer acreditar que há algo de errado em nós, mas isso não é verdade. Você pode se surpreender com o que é capaz de fazer quando ouve seu coração.”

Com 21 anos, a modelo conta com o pioneirismo nas passarelas para levar inclusão
Com 21 anos, a modelo conta com o pioneirismo nas passarelas para levar inclusão

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