Opinião

Barbenheimer

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Demorei para entender o que significa Barbenheimer quando vi um artigo no New York Times falando sobre a excelência dos memes Barbenheimer. A jornalista trazia uma visão do quanto a internet propiciou um marketing orgânico tão estrondoso quanto às bilheterias dos dois filmes lançados (ironicamente) no mesmo dia: "Barbie" e "Oppenheimer".

"É uma justaposição absurda: a história sombria do Sr. Nolan de uma ameaça existencial criada pelo homem e a interpretação alegremente irônica da Sra. Gerwig da animada bolha rosa da Barbie. Se os filmes têm algo em comum, é que ambos exploram uma visão macro da humanidade, uma através das lentes do poder do estado e da moralidade pessoal, e a outra através do patriarcado e da cultura de consumo", diz Elizabeth Spires, a autora.

Os dois filmes foram recordes de bilheteria. "Oppenheimer" surpreendeu com sua bilheteria de aplaudíveis R$100 milhões (que provavelmente um drama de 3 horas não teria alcançado se não tivesse sido lançado tão ironicamente no mesmo dia que o antagônico "Barbie"). Logo na sua estréia, o live-action da boneca, cujo orçamento foi de US$ 145 milhões, praticamente já se pagou. Mais do que um filme, "Barbie" tornou-se um grande evento cultural, com os fãs escolhendo cuidadosamente suas roupas pinks e postando nas redes sociais num looping quase eterno de marketing gratuito e orgânico. A onda "Barbie" impactou a decoração de lojas, de casas, campanhas de marketing, obviamente brinquedos e até a tradicional e elegante casa cor, sem contar o clássico acarajé que sofreu um bombardeio de corante rosa e o resultado ficou super esquisito. Economicamente o impacto do filme foi muito maior do que as bilheterias e as pipocas com guaraná que acompanham o público.

Outro fenômeno que se fortaleceu com a estréia desse dia 20, foi o movimento Barbiecore. Inspirados pelo rosa choque da boneca, várias marcas vem desenvolvendo produtos que incorporam a estética "Barbie girl in a plastic world". Obviamente a Mattel se beneficiou diretamente. Antes mesmo do lançamento do filme, os papéis da fabricante de brinquedos americana valorizaram 16,05%. Para a empresa que vem constantemente perdendo força no mercado, o filme é um respiro, já que criou um novo modelo de monetização a partir dos collabs entre marcas renomadas e a Barbie. O impacto dessa tendência vai muito além do aspecto visual e reflete a conexão emocional que muitos de nós ainda temos com a boneca. Na mesma onda, se muitos se vestiram de pink, tantos outros se vestiram de uma mescla pink, negra e sangrenta e assistiram no mesmo dia os dois filmes. Se a conexão emocional da "Barbie" traz uma certa nostalgia da infância, carregada de críticas e questionamentos sobre o patriarcado, não se pode dizer o mesmo do filme vizinho… Além da viralidade do meme Barbenheimer, sua criticidade é muito interessante e contemporâneo porque detona (muitas vezes com um humor negro) com os estereótipos de gênero tão ou mais antigos quanto a própria Barbie e o próprio Oppenheimer.

Elisa Carlos é engenheira, especialista em inovação, head de operação (elisaecp@gmail.com)

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