Opinião

Cultura é cultivar!

05/07/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Domingo tive o prazer de ver a apresentação de Cavalleria Rusticana no nosso Polytheama.

Trata-se de uma ópera em um ato, composta por Pietro Mascagni, estreada em 17 de maio de 1890 no Teatro Costanzi, em Roma. É considerada uma das primeiras composições do realismo operístico italiano, ou verismo.

Montagem simples, mas honesta. Orquestra afinada, com alguns erros da harpa. Mas nada terrível. Cantores bons. Enfim, um programa excelente, a dez reais.

Mas pouco divulgado. Infelizmente.

Aliás, essa é uma reclamação recorrente dos jundiaienses: Programação cultural há. E às vezes são coisas muito, mas muito boas mesmo. Mas poucos ficam sabendo.

Lembro de uma vez que um grupo de meninas dançarinas da Coreia do Sul, as Little Angels, se apresentou aqui em nossa cidade. Uma verdadeira maravilha. Mas não tinham mais do que 100 pessoas na plateia. Para um teatro com mais de 1200 lugares, a sensação de vazio foi imensa.

Mas não apenas vi isso no nosso Poly. Gosto muito de música clássica. Então minhas experiências foram mais frequentes nesse gênero. E aí surge um problema maior. A divulgação quase não existe.

Mas como resolver isso? Como fazer com que a população conheça a programação e se sinta disposta a sair de casa? Ou somente eu vejo que existe esse tipo de problema de divulgação?

Sinto que a prefeitura faz sua parte no que lhe compete: divulgação nas redes sociais oficiais, e-mails para os oito mil servidores municipais. E eu me pergunto: o que mais fazer?

Uma solução poderia ser divulgar exaustivamente pela TV a programação do teatro. Mas como posso sugerir isso se nem eu vejo mais televisão?

Consigo enxergar em alguns sites de notícias locais apoio na divulgação das apresentações. Portanto, não há motivo para falar que a nossa imprensa tem má vontade.

Claro, essa divulgação pode sempre melhorar. Sempre. Mas acho que há um passo atrás que toda a sociedade poderia dar: valorizar e cultivar o hábito de consumir cultura, arte, não apenas de forma virtual, mas presencial. Mais que necessário, é fundamental um trabalho para cultivar nas pessoas o gosto pela cultura. E não estou falando apenas da música clássica, de ópera (infelizmente muita gente desinformada criou um conceito chamando essas manifestações de "alta cultura", o que é uma imensa bobagem que só afasta e cria uma barreira elitista), mas de tudo o que a cultura local oferece. Todos nós precisamos saber valorizar, participar e criar a rotina de aproveitar um espaço tão incrível como nosso Polytheama e sua programação que atende a todos os gostos. E acho isso incrível nesse espaço: até eu já me apresentei naquele palco tocando percussão no musical "La Pietà" (que já foi tema de minha coluna algum tempo atrás); desde shows e musicais de todos os gêneros até ópera! Isso é incrível e está ao nosso alcance.

Criando o hábito, levando as crianças. Transformando esse espaço em parte de nossa rotina.

A palavra cultura vem justamente de "cultivar".

Sem esse cultivo, sem o hábito, sem torná-lo parte de nossas vidas, não cresce. O cultivo não tem uma continuidade.

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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