A tecnologia e a própria ciência têm perigosamente tornado o homem vulnerável na perda da sua identidade e do seu real papel dentro dos grupos a que pertence, colaborando para com esse quadro, a ausência na transmissão de princípios culturais pelos meios de comunicação em massa, já que os processos de divulgação são mais diretos e o próprio homem menos participante da coletividade e menos solidário com o próximo.
Além destes fatores que contribuem para a inexistência do espírito comunitário, somam-se outros como o consumismo desenfreado, a alienação e massificação dominantes. Tais aspectos têm colaborado decisivamente com a gradativa perda de nosso patrimônio cultural, tornando cada vez menores as demonstrações de nossos costumes, tradições e folclore.
Desde quinta-feira, entramos em junho com suas festas próprias, trazendo grande alegria e reunindo dança e comidas típicas para homenagear os três santos católicos, Santo Antônio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06). Nelas, a tradição é pular fogueira, dançar quadrilha, tomar quentão, vinho quente e canjica, comer bolo de fubá, pinhão assado, pé-de-moleque, curau, arroz doce, pipoca, milho cozido e tapioca.
Vieram ao Brasil com os portugueses no período colonial. Desde então, os casais fantasiados de caipiras, com chapéus de palhas, seguem a noiva, ao som de músicas características, acompanhadas normalmente de sanfonas, divertindo-se embaixo de bandeirinhas e balões coloridos que enfeitam o "arraiá".
Embora escassas, as festas juninas, com maior ou menor destaque, ainda são realizadas em todas as regiões do Brasil e representam uma das manifestações culturais brasileiras mais expressivas. No nordeste brasileiro, só a perspectiva de suas realizações transforma as cidades e o espírito das pessoas, que parecem sentir uma irresistível atração e afinidade pelas celebrações.
Na realidade, reitere-se, infelizmente, o ciclo junino em outros locais como São Paulo vem se urbanizando, o que provoca grande perda de sua originalidade, embora ainda se vislumbrem alguns pequenos focos de resistência e nesta trilha, outras ricas manifestações populares também se reduziram de forma significativa, dependentes de poucos entusiastas ou idealistas que procuram mantê-las a qualquer custo.
São pessoas que lutam pela preservação de nosso patrimônio cultural, que não pode padecer pela negligência ou omissão dos próprios brasileiros. Uma situação de interesse por usos, costumes e folclore deveria ser mais desenvolvida nos jovens, que com isso preparariam melhor sua personalidade social já que propiciam consciência de valores, cultivo da autonomia crítica e sentido de responsabilidade, condições indispensáveis para o exercício da liberdade e da democracia.
E o principal, conhecendo nossas raízes, a juventude encontraria mais qualidade nos aspectos em geral, tanto que nas artes em geral, principalmente nas músicas, parece prevalecer um manifesto péssimo gosto na atualidade. Enquanto não dermos muita importância às circunstâncias de nossa cultura popular, não teremos esperança de que brevemente prevalecerá mais humanismo em nossas relações.
Assim fica a saudade das quermesses nas praças, das festas nas chácaras e sítios, dos ensaios de quadrilhas, dos terços conduzidos por rezadeiras, das fogueiras, das guloseimas típicas e do quentão e principalmente do quanto eram bons tais festejos. Agora não estamos mais na época da pandemia tão intensa. Que tal recuperarmos esse clima, fazendo celebrações para os santos de junho reunindo quem a gente gosta?
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário e ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)