Opinião

Expandindo os horizontes

03/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Nossa coluna vertebral faz parte de um sistema quase que cibernético e holístico, totalmente integrado com nossa mente, com nossas emoções, com nossos hábitos, quase que um sistema dentro de outros sistemas corporais. Ida Holf já dizia que "o ser humano é muito mais do que a soma de suas partes".

Quanto mais vejo os casos de dores nas costas que chegam em minhas mãos, mais compreendo o quão dependente de todos os nossos sistemas todos nós somos. Uma dor nunca é apenas a dor local. Na verdade, a pergunta a ser feita é: "o que me levou a sentir esta dor"? Onde se deu tal desequilíbrio? Sendo que, muitas vezes, a resposta não se encontra no presente ou num passado próximo, mas é decorrência de anos atrás. E quando digo isso, me refiro a traumas e estresses ocorridos por toda a vida.

Há um sistema em nosso corpo que é tido como nosso sexto sentido. Um sistema que vai muito além de transmitir forças em nosso corpo.  Nosso maior órgão sensorial. Daí você me pergunta: temos um sistema que se tornou um órgão então? E a resposta é: sim! Robert Schleip, pesquisador alemão, tem um artigo intitulado "A Fáscia como órgão sensorial". Ele é um dos grandes nomes que tem revolucionado a ciência do movimento.

Calma, vamos lá. Chamamos de fáscia uma bainha, uma folha de tecido conjuntivo dissecável que faz parte de um grande sistema: o Sistema Fascial, que interage intimamente com outros sistemas corporais. A fáscia é o órgão da forma, já que dá forma aos músculos, nervos e órgãos, mas que também participa ativamente de reações metabólicas em todo nosso corpo. A fáscia é um órgão de comunicação, desempenhando um papel essencial em nossa postura e na organização de nossos movimentos.  Porém, esta rede de tecido conjuntivo é nosso mais rico órgão sensorial, tem seis vezes mais nervos sensitivos do que nossos músculos. A retina, era até então nosso maior órgão sensorial, mas a fáscia se igualou a ela e até a superou, segundo algumas pesquisas. Segundo Dr. Schleip, para a relação sensorial com nosso corpo, a fáscia é sem dúvidas nosso maior órgão sensorial e mais importante.

A fáscia tem um importante papel na propriocepção (a maneira como sentimos o movimento e as posições do nosso corpo, a postura e o equilíbrio), na nocicepção (sensação de dor), na interocepção (sensações do próprio corpo, fome, sede, cansaço, como nos avaliamos por dentro). Portanto, ela é uma importante fonte de informação sobre nosso corpo, de como nos sentimos.

Se estamos equilibrados fisicamente e emocionalmente, sentimos bem todos esses receptores que se encontram em nossos músculos, articulações, vísceras etc... mas se não estamos bem, podemos nos desorganizar e estes receptores mandarem informações confusas sobre o nosso corpo para o nosso cérebro, podendo resultar em uma dor crônica, por exemplo. 

Muitos casos de dor lombar são relacionados a problemas nos discos. Mas as pesquisas revelaram que para muitos outros casos de dor lombar, a origem pode estar em uma parte completamente diferente do corpo. Assim como um problema intestinal, como a síndrome do intestino irritável, pode referir dor lombar. A Osteopatia identifica muito bem estas desordens corporais.

Além disso, um outro pesquisador, Paolo Tozzi, com seu artigo "Será que a fáscia guarda memorias?" assim como o anterior, encontrado facilmente no PubMed, apesar de controverso para a medicina atual, coloca que o tecido fascial, por ser ricamente inervado, que qualquer irritação pode desencadear respostas locais e globais, sendo que uma memória, um trauma, por exemplo, pode ser trabalhado no tecido fascial e ajudar o individuo a conviver sem a dor e com qualidade de vida.

A ciência deu um grande passo e, neste lindo momento, questões de dores nas costas, antes tratadas com remédios e cirurgias apenas, hoje em dia têm um olhar mais respeitoso, complexo, com base nas emoções, na alimentação, no lifestyle, no movimento, ou seja, hoje há um maior respeito com a história da pessoa que sofre por uma doença, com tratamentos multidisciplinares e com a possível cura física, mental e muitas vezes espiritual. Isso é saúde. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é educadora física (licianarossi@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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