Opinião

Self-love, marketing e solidão

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Saiu na Time Magazine na semana passada um artigo relacionando self-love e solidão. A autora expõe os riscos do "eu mereço", relacionando-o com o marketing e redes sociais. Na busca de nos satisfazer constantemente estamos cada vez mais deprimidos e solitários.

Edward Bernays foi sobrinho de Freud e foi o pioneiro em utilizar os conceitos psicológicos do tio, como o inconsciente, desejos e impulsos emocionais, para criar estratégias persuasivas de marketing e propaganda. Ele acreditava que as pessoas eram motivadas por desejos inconscientes e explorava essas motivações para influenciar o comportamento do consumidor, através da associação de produtos com emoções, status social e aspirações.

Platão apresentou, no livro "O Banquete", o mito do andrógino, em que os seres humanos eram originalmente seres completos. No entanto, por sua natureza arrogante e presunçosa, foram separados em duas metades pelo deus Zeus, condenando-os a uma busca eterna por sua outra metade. O mito traz uma alegoria a nossa necessidade constante de buscar algo que nos falta. Estamos sempre em busca de uma nova fonte de felicidade, de alívio. Passamos a acreditar que os mitos da TV e da Revista, eles sim, são felizes, porque têm seus corpos, suas roupas, suas casas perfeitas etc.

Com as redes sociais, essa influência transbordou para uma exposição de uma felicidade coletiva fake. Imagens pontuais, com filtros, com cenários inventados, expondo sentimentos mentirosos criam expectativas irrealistas e pressões sociais, levando as pessoas a buscar produtos e serviços que prometem ajudá-las a alcançar esse ideal de amor-próprio e autoestima: "eu mereço". Eu mereço ter esse corpo perfeito, essa casa, esse carro, esse relacionamento, eu mereço ser feliz. Passamos a acreditar que a felicidade passa a ser justificativa para satisfazer todos os nossos desejos e impulsos, sem levar em consideração as consequências para nós mesmos e para os outros. O que obviamente resulta em comportamentos impulsivos, irresponsáveis e até mesmo autodestrutivos.

A jornalista da Time cita um tutorial de maquiagem para a Vogue em que Alexandria Ocasio-Cortez, a mais jovem congressista americana em prol das minorias, explica como amar a si mesmo é a fundação de tudo. Ou ainda a psicóloga Nicole LaPera trend no instagram explica aos seus 6,4 milhões de seguidores: amor próprio é o nosso estado natural. A cantora Miley Cyrus em seu último hit: Flowers, diz: "Eu consigo me amar melhor que você".

A jornalista traz ainda que o foco excessivo no amor próprio pode levar ao desenvolvimento de uma mentalidade narcisista, onde a pessoa se torna excessivamente auto-centrada e preocupada apenas consigo mesma. Acabamos por negligenciar as necessidades e sentimentos dos outros, nossas próprias responsabilidades e compromissos, resultando em problemas de relacionamento e isolamento social. A depressão é um transtorno cada vez mais frequente, inclusive em adolescentes. Definitivamente estamos buscando a felicidade no lugar errado.

Elisa Carlos é engenheira, especialista em economia, empreendedorismo e inovação (elisaecp@gmail.com)

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