Opinião

Bailarina

21/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Quando eu e minha irmã éramos crianças, meu pai, com toda a sua simplicidade, conseguia nos dar os melhores presentes. Por melhores não falo de valor monetário e sim os mais divertidos.

Desde um soldadinho que dava corda e andava sozinho, ao jogo de botões

Me lembro de uma caixinha de música que ele deu pra minha irmã e que ela adorava. Uma caixa preta toda acolchoada em vermelho com uma bailarina branca que girava em um espelho no fundo. A primeira vez que eu vi a caixinha eu achava a música interessante e a bailarina graciosa. Mas com o tempo perdeu a graça, o encanto.

Acho que me cansei da mesma música, da mesma bailarina, do mesmo movimento circular...

O que antes parecia divertido era agora algo monótono. Eu não entendia como minha irmã conseguia sempre se divertir, já que era tudo igual.

Quando eu completei um mês de namoro eu dei de presente pra minha namorada uma bailarina, um casal de bailarinos na verdade. É que a gente se conheceu nas aulas de dança; ela era professora e eu pisava no pé dela.

Ela adorou o presente.

Enquanto finalizava o embrulho, eu me lembrei da caixinha de música da minha irmã. Pois a bailarina era muito parecida, e foi aí que eu me dei conta. Foi só então que eu entendi por que minha irmã sempre se divertia com a mesma caixinha.

Com 12 anos minha irmã descobriu o que eu só consegui descobrir depois dos 30.

Depois de achar um amor sincero, maduro.

Apesar de escrever sobre relacionamentos, eu não sei responder o que é o amor como muitos pensam ou esperam. Eu sei responder o que é o amor pra mim. O que eu vi e chamei de amor na minha vida.

E é assim que me sinto ao acordar todos os dias ao lado da minha bailarina, da mulher que, independente da caixinha, do passo ou da música, vai sempre pintar um sorriso no meu rosto e a certeza da melhor escolha no meu coração.

Foi aí que eu entendi por que a minha irmã gostava tanto daquela caixinha.

A música podia até ser a mesma, mas a cada dia a sensação era diferente.

Quem nunca ouviu a mesma música 20 vezes seguida?

Melhor que essa sensação. Só a sensação de beijar a mesma boca todos os dias e parecer como se cada vez fosse a primeira, como se cada toque tivesse aquela magia do novo, do desconhecido.

Minha irmã que estava certa, ela aprendeu que mesmo uma bailarina que dança a mesma música, faz o mesmo passo, pode ser sempre um motivo novo pra sorrir.

Imagina eu, que sorte que eu tenho. A minha bailarina conhece umas 1000 músicas e uns 500 passos.

O sorriso pode até ser o mesmo, mas o motivo é o importante. Renovação diária!

Sorte a minha acordar do lado dela, sorte a dela que desde pequeno eu já observava bailarinas.

Ainda criança aprendi a admirar a beleza da dança, a leveza do toque.

Eu posso até não dançar como ela. E realmente não danço. Mas sorte a minha conseguir dançar com as palavras e escrever um texto só pra ela. Publicar no jornal.

Essa é minha forma de dizer... Eu te amo.

E mesmo que a música não mude, como você eu sei que cada dia será um passo diferente.

Amo você, bailarina!

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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