Opinião

Simone de Beauvoir

19/04/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Romance de Caroline Bernard, "Simone de Beauvoir, a mulher de Montparnasse" narra a história da escritora e filósofa francesa, cuja vida e obra marcam a cena cultural e comportamental da contemporaneidade. Romance biográfico, Bernard acompanha a trajetória da garota nascida em 1908 numa tradicional família francesa, cujo pai perde a fortuna da esposa, mas não a pose aristocrática. Batizada Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, estuda até os 17 anos num colégio católico. Ingressa na Universidade de Paris e gradua-se em Matemática e Filosofia. Na universidade conhece Jean-Paul Sartre, jovem intelectual cujo brilhantismo só não parece maior que a própria arrogância. Simone e Jean-Paul passam a se relacionar, mas fogem do modelo convencional monogâmico. Simone trabalha como professora de Filosofia para jovens do ensino médio entre 1929 e 1943.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945 Simone, Sartre e Merleau Ponty fundam "Os Tempos Modernos", revista cultural que desde seu primeiro número influencia a cena cultural francesa e mundial. Albert Camus e Raimond Aron figuram entre seus colaboradores habituais. Com sua enorme capacidade para trabalhar, Simone edita a revista, lendo originais que chegam de vários cantos. E continua a ser a primeira leitora e revisora dos textos de Sartre. Leitora arguta e bem aparelhada, ela era capaz de instigar o filósofo a levar adiante ou a modificar um argumento. Simone nunca foi - e brigou muito para não ser vista como - um apêndice de Sartre, ou ficar conhecida como "a mulher 'de' Sartre". Havia Simone, havia Sartre e um amor que os uniu pela vida toda.

Sua carreira de escritora decola com o lançamento de "A convidada", romance cuja trama baseia-se no relacionamento entre Sartre, Simone e Olga. Ops! Mas quem é a intrusa? Uma jovem atriz de origem russa, conhecida de Simone desde a década de 1920. Olga relaciona-se tanto com Simone quanto com Sartre. Olga casa-se com o jornalista e escritor Jacques-Laurent Bost, e ele também vai se relacionar com Simone. Desde a juventude Simone questiona o papel social da mulher, escanteada pelo patriarcado vigente. Publica em 1949 "O segundo sexo", seu mais famoso tratado, tornado bíblia do novo feminismo florescido nas décadas de 1950 e 1960. O livro, por sinal, é dedicado a Bost.

Simone não teve modelos femininos nos quais se inspirar. Desenhou seu próprio caminho e este serviu de referência a tanta gente mundo afora. O amor verdadeiro deve se fundar "no reconhecimento recíproco de duas liberdades", escreveu Simone. Não só escreveu como viveu o que preconizou. Vivenciou um enredo sentimental com tantos personagens quanto os da "Quadrilha", de Drummond ("João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava...").

Caroline Bernard é pseudônimo da alemã Tania Schlie. Admiradora da vida e da obra de Beauvoir, escreveu "A mulher de Montparnasse" baseando-se nas memórias, diários e na correspondência da autora francesa. Empreendeu pesquisa de fôlego para redigir seu romance a respeito de personagem tão controversa quanto apaixonante.

Fernando Bandini é professor de Literatura (fpbandini@terra.com.br)

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