Opinião

Entrevista

15/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Semana passada fiz uma entrevista que não me rendeu um emprego, mas só de ter virado história por aqui acho que já valeu a pena.

O papo fluiu fácil com a entrevistadora, falamos bastante sobre tudo que vimos no decorrer da vida profissional, eu dos meus 15 e ela dos seus 27 anos de carreira.

Ela disse ser nova na empresa, que aquela era sua primeira entrevista no cargo de RH. Não sei quando aquela entrevista havia se transformado em um papo informal em um bar. Faltou só a cerveja gelada, mas tinha o café. Preciso inclusive ressaltar que o café era maravilhoso.

Como bom mineiro que sou, tenho no DNA esse ar de sommelier de café, degustador nato.

O que mais chamou minha atenção em nosso papo foi ela me contar sobre como conheceu seu marido, e em como era inusitada a história.

Um casal de adolescentes que nestas páginas vou chamar de Cris e Raul.

Eles se conheceram conversando na rua com mais alguns amigos, tudo isso em meados da década de 80.

O Raul tinha 17 e a Cris tinha 15 anos.

Por volta das 10 da noite a irmã da Cris falou que elas precisavam ir embora, pois o pai delas, que era bravo, viria buscá-las caso demorassem mais.

Na pressa, se despediu de Raul com apenas um beijo, beijo esse que nunca foi esquecido por ele.

Raul passou a andar pelas ruas próximas atrás da Cris. Sem sucesso, pegou o catálogo telefônico e mapeou todos os números dentro da região em que moravam. Ligava um por um, na esperança de achar a Cris.

Mal sabia ele que a Cris não tinha telefone em casa. E ele também não, o que o fazia gastar o pouco dinheiro que ganhava ajudando o pai nos serviços de pintura em fichas telefônicas.

Raul ficou nessa por meses, o dinheiro das fichas acabava e assim tinha que esperar até o mês seguinte para seguir com sua busca.

Foi assim por quase um ano, até que por fim os telefones se esgotaram, quase que levando consigo suas esperanças de reencontrar a Cris.

Cinco anos depois a Cris já tinha quase se esquecido do Raul, com aquele beijo encostado no fundo de suas memórias.

Estava namorando outro rapaz, o Antônio. E no dia que romperam, pois havia descoberto uma traição, ela esbarrou no corredor da faculdade com o Raul.

Eles estudavam no mesmo campus por quase três anos, mas nunca haviam se cruzado.

Há quem diga que Deus escreve certo por linhas tortas, assim numa lógica meio Parkisonianica mesmo. Tem aqueles que dizem que é acaso e outros ainda destino.

Certeza nunca teremos, ou melhor, nunca saberemos.

O que pode ser dito é que a Cris e o Raul completam este ano trinta e três anos de casados, com três filhos, um gato chamado Cleiton e uma história que encanta a todos que a ouvem.

A Cris diz estar ansiosa para ter netos para compartilhar como conheceu o Raul, ou, quem sabe, até escrever um livro.

Por enquanto eu faço o que posso e transmito esta história por aqui.

Posso até não ter conseguido o emprego, provável que a empresa tenha achado alguém mais qualificado para a vaga, mas a vaga de contador de histórias, bem... Essa ainda é minha.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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