Opinião

Dualismo

07/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Eu me lembro quando comecei a ouvir Rosa de Saron, uma banda de rock cristão. Eu e meus amigos gostávamos muito dessa banda, preciso admitir que ouço até hoje, acompanhei o crescimento da banda e da profundidade das letras. Vi meu grupo de amigos crescer junto, as letras de alguma forma estiveram presentes em muitos dos momentos da nossa adolescência. Uma das minhas músicas preferidas é a música "Dualismo".

Acho que devido ao fato de que a primeira vez que ouvi a música eu não sabia o que a palavra queria dizer, na ocasião eu pesquisei no dicionário e fiquei interessado no seu significado. Deixo aqui uma breve transcrição do que li no dicionário Michaelis:

Dualismo: Toda doutrina que, diante de qualquer questão que se coloque em determinado domínio, admite dois princípios essencialmente irredutíveis (por exemplo, o dualismo moral da natureza e da graça).

Revisitei os inúmeros momentos da vida em que vivi situações assim, de dualismo. Desde simples conflitos da infância até dilemas complexos da vida adulta.

Por fim, uma pergunta ficou presa em minha cabeça, batendo de um lado paro o outro, tipo bolinha em jogo de pinball do Windows antigo, essa referência é bem específica, eu sei, mas é que a maioria dos meus leitores tem mais de 30. Aos demais o Google resolve. Voltando à minha dúvida, fiquei com esse pensamento: ansiedade é bom ou ruim?

Pois a ansiedade que tive quando o diretor da minha escola disse que eu só entrava na aula no dia seguinte com a presença dos meus pais depois de aprontar no recreio foi ruim, temendo a reação da minha mãe e as consequências pelas minhas traquinagens. Mas quando escrevi uma cartinha me declarando pra Viviane da quinta série e ela me disse que no fim da aula do outro dia me dava a resposta, eu senti a ansiedade como algo bom, acho que porque vinha misturada com a esperança do amor correspondido. Se é que pode se chamar de amor.

Creio que amor é um sentimento muito complexo para crianças de onze anos que só querem andar de mãos dadas e dividir o sanduíche da lancheira. Mesmo assim ainda fico pensando que se todos os amores fossem assim, tão simples como nos tempos de escola, a vida seria mais fácil, e mais tranquila também. Eis aqui mais um dualismo.

Mas é que o tempo passa, a gente cresce e começa a rebatizar os sentimentos. Chamamos o medo do fracasso de sensatez e disfarçamos a ansiedade sobre a ótica de que é tudo pra agora. É a correria da vida...

Do que mesmo estamos correndo? Ou de quem? Quem é esse fantasma que tanto nos assusta?

Quando eu era pequeno gostava de dividir tudo em assunto de criança e assunto de adulto, mas é que agora que estou do lado de cá as coisas não são tão simples.

Não dá pra minimizar tanto.

Saudade do recreio do quinto ano... Onde aperta pra voltar?

A verdade é que algumas dessas dúvidas provavelmente nunca terão respostas e tudo bem. Tudo bem viver com um pouquinho de incerteza, ansiedade e até medo. Afinal a vida é isso, esse misto de sentimentos e desejos que nos fazem seguir.

E, só pra que não fiquem tão ansiosos como eu fiquei, a Viviane disse que eu era legal, mas só como amigo. Foi ruim, mas pelo menos não voltei pra casa ansioso, só um pouco triste. Nem coisa de adulto nem coisa de criança.

Coisas da vida.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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