Eu sei que estou sendo insistente com essa história, mas eu preciso dividir com você as coisas que me aconteceram no desfecho dessa aventura de 11 shows do Coldplay aqui no Brasil. E se você é um leitor ou uma leitora que me acompanha nesses mais de dois anos de coluna, você sabe o quanto gosto de compartilhar as coisas que penso e sinto. A bola da vez é o violão do Chris Martin, que agora me pertence.
Quando comecei essa jornada, eu mesmo não sabia o que ela se transformaria. Quer dizer, eu não planejei com antecedência ir a 11 shows e pedir o violão do vocalista de presente. As coisas aconteceram naturalmente. A medida que eles iam lançando os shows eu sentia uma vontade absurda de estar presente em cada um deles. "Quem vai em um, vai em dois", dizia eu. Quando eu dei por mim, estava dizendo que "quem vai em dez, vai em onze".
E já que eu iria zerar os shows do Coldplay no Brasil, eu precisava aproveitar disso. Eu precisava fazer um pedido ao Chris Martin. Não queria uma palheta, subir no palco para tocar alguma música com ele ou sua camiseta. Tudo isso é bem mais comum do que você imagina. Eu queria algo que ninguém ousou pedir e que eu sabia ser possível: o violão.
E eu fui incentivado por uma outra história minha com outro astro da música internacional. Em 2017 eu fui aos quatro shows do U2 aqui no Brasil e pedia nada mais, nada menos, que o óculos do Bono. Fui atendido no terceiro show, ganhando o maior souvenir de todos para fãs dos irlandeses direto das mãos do próprio vocalista. Foi o momento mais especial da minha vida. Prometo contar aqui um dia.
Na minha cabeça, nada poderia ser impossível para mim. Oras, eu tenho o óculos do Bono! Além disso, eu sabia que o Chris Martin não tinha apenas um violão. Ele, durante um show, usa cinco diferentes e ainda possui os violões reservas, caso os titulares apresentem algum defeito. Também sabia que após o último show no dia 28 de março, no Rio de Janeiro, o próximo compromisso da banda seria só em maio, em Coimbra, Portugal. A confiança era enorme.
O que eu não contava era com a avalanche de pessoas que, por seguirem meus stories no Instagram relatando minha jornada nos shows, começou a torcer freneticamente por mim. Eu sempre fui meio discreto nas minhas redes sociais - os jovens chamam de low profile - e, de repente, centenas de pessoas assistindo meu conteúdo e cobrando por mais.
Além disso, a cada fila de show (sim, eu basicamente acampava nas filas para ficar na grade dos shows para ser notado pelo Chris Martin e sua equipe) eu fazia mais amizades ao contar minha história. "Você vai em todos os shows?!" era a pergunta habitual seguida de uma cara de espanto. Logo, a história se espalhava pela fila e eu virei uma figurinha carimbada por onde quer que eu passasse. Minha disposição em ajudar a organizar a fila e numerar pessoas para facilitar as idas ao banheiro do pessoal, também me proporcionou uma espécie de fama provisória. "O rapaz do caderninho" era uma das minhas alcunhas.
No último show, eu recebi centenas de mensagens de apoio e torcida de gente que eu nunca vi na vida. Quando eu dei por mim, o objetivo de conseguir o violão não era mais meu, mas sim de uma galera que resolveu depositar em mim seus próprios sonhos com a banda. Eu tinha a impressão que estava representando muita gente - desculpe se soar presunçoso - e conseguir ganhar o violão se tornou algo muito maior do que o meu próprio sonho.
Mas sabe o que me deixou mais feliz com toda essa história? Foi o amor gratuito que recebi das pessoas. Recebi críticas e zoação? Recebi! Mas foram tão poucas se comparado com o carinho que ganhei. E tudo isso de gente que nunca vi na vida. E ainda hoje, uma semana depois, minhas redes sociais estão transbordando de mensagens positivas e de afeto.
O Coldplay tinha um lema nessa turnê: "If you want love, be love. If you want peace, be peace" (Se você quer amor, seja amor. Se você quer paz, seja paz). E estou provando isso na pele. Nessa jornada de 11 shows, eu tentei só ser amor e paz e, veja você, é exatamente o que estou recebendo de volta.
Conhecimento é conquista.
Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)