O New York Times vem relatando a preocupação do Governo Americano contra a rede social chinesa TikTok, acusando-a de espionagem. As acusações não são recentes, datam de 2020. A questão vai além da privacidade dos dados pessoais dos usuários americanos, passa por questões mercadológicas e principalmente de soberania nacional.
O TikTok é uma rede social de compartilhamento de vídeos curtos. Assim como o Facebook, Instagram, Google, é baseado em algoritmos de inteligência artificial que recomendam conteúdos para os seus usuários. Foi criado em 2016 pela empresa chinesa ByteDance e começou a expandir rapidamente a partir de 2018. Hoje já foi baixado mais de 3,5 bilhões vezes. O CEO Shou Zi Chew passou 5 horas, na semana passada, sendo interrogado pelo Congresso Americano, que o acusa de vazar dados para o Governo Comunista Chinês e de coletar dados excessivos dos seus usuários.
A acusação vem baseada em um documento australiano que reporta o acesso da rede social à: câmera, microfone, localização, mensagens de SMS e outros dados privados. A jornalista investigativa Julia Angwin (NYTimes) citou um artigo publicado no Privacy Enhancing Technologies Symposium (PETs) de 2018, em que se analisou 17 mil apps americanos e concluiu-se que mais de 12.500 tem acesso ao mesmo nível de dados que o TikTok.
Não precisa ser expert para saber que o modelo de negócio dos apps que não cobram dos seus usuários é baseado em vender as informações dos nossos comportamentos para empresas interessadas em aumentar suas vendas. Como o governo americano acredita que o facebook fatura USD 25 bilhões por ano? Ontem mandei mensagem a uma amiga pelo Whatsapp combinando de comer uma pizza. Às 18h30, o Ifood me mandou uma promoção de pizzas. Conveniente, não? O acesso às minhas informações não são tão diretas quanto a gente imagina, o Ifood não lê minhas mensagens de whatsapp, mas a META (empresa dona do Facebook, Instagram, Whatsapp) vende informações relevantes em massa para empresas interessadas em melhorar a assertividade dos seus anúncios.
As acusações que o governo americano está fazendo para o TikTok já estão gerando jurisprudência para as gigantes americanas receberem o mesmo tratamento. No estado de Utah foi criada uma lei que proíbe o uso do TikTok, mas também do Instagram e do Facebook por menores de 18 anos. É evidente que o Governo Americano está pensando em soberania nacional, e estão usando dois pesos e duas medidas e certamente estão protegendo os interesses dos EUA, o que não é de se assustar, já que a China faz exatamente a mesma coisa: são mais de 170 aplicativos americanos proibidos, entre eles, todas as redes sociais. Nenhum dos dois governos querem que o outro tenha acesso aos dados de comportamento de seus usuários, o que seria uma imensa desvantagem em uma possível guerra cibernética.
Além disso, o TikTok é uma ameaça para o mercado americano já que faturou em 2021 USD 17 bilhões, valor muito próximo ao do Facebook; tem 1 bilhão de usuários ativos, contra 2 bilhões do Facebook. E vêm crescendo em ritmo mais acelerado que seus concorrentes.
Elisa Carlos é intra empreendedora, engenheira e especialista em inovação (elisaecp@gmail.com)