Opinião

Coisas da vida

25/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Eles se conheceram em meio a tantas festas da faculdade. Já beberam na mesma mesa, dançaram na mesma balada sertaneja e só...

Ele sempre olhou pra ela pensando que podia rolar algo mais, ficou só no pensamento.

Talvez porque aquele sorriso nunca deu brecha, apenas vontade, talvez porque ele namora e ela conhece a outra ou talvez porque achar alguém atraente não quer dizer que precise ir além disso.

Mas é que ele terminou o namoro, agora pode tirar a prova se é só atração ou quem sabe pode até virar sentimento.

Imagina ser eu o motivo daquele sorriso? Pensou ele.

Encontrou com ela no corredor da facul, chamou pra irem tomar alguma coisa na sexta, ela aceitou. Preciso mesmo conversar. Disse ela meio cabisbaixa.

Saíram na sexta, ela contou do carinha que está saindo. Acho que estou apaixonada, mas ele não tá nem aí. Ele não sabia o que falar.

Olha eu aqui querendo te fazer sorrir. Pensou, mas não falou. Ficou mudo depois do banho de água fria.

"Mas e você? Terminou tem pouco tempo né?"

"Sim, as coisas esfriaram, acho que caímos na rotina."

"Foi isso mesmo ou já tinha outra?"

"Tinha. Você!"

"Como assim? A gente é amigo!"

"Porque você nunca quis algo a mais."

"Você nunca disse."

"Por que eu namorava, não dava."

"Nem sei o que falar..."

"Fala que dá, e vamos descobrir."

Imaginou todo esse diálogo em sua cabeça depois da pergunta dela, mas só respondeu que não tinha ninguém, fechou o coração pra balanço.

"Mas e esse carinha? Tem tempo que vocês estão saindo?"

Se ele não quiser eu quero! Mais um pensamento que guardou pra si.

Se não der certo com ele juro que me declaro. Prometeu em silêncio, mesmo sabendo que era uma promessa mais furada que promessa de político em véspera de eleição.

Se a gente soubesse o que se escodem nas entrelinhas de cada texto muitas verdades seriam reveladas e expectativas quebradas. Afinal de contas expectativas nada mais são do que projeções nossas de algo que idealizamos. Talvez até desejemos.

Elas até podem ser boas no início, mas nunca irão superar a delícia do processo de descoberta, da magia do desconhecido tomando forma.

Tipo quando a gente assiste a um filme do qual já leu o livro, e vê fora da nossa mente aquele personagem que antes habitava apenas o nosso imaginário. Vivia no campo das ideias. Acho que é por isso que eu sempre gosto mais do livro. Do poder da imaginação.

E assim o coração medroso se tranca em meio a uma pseudo-realidade que nada mais é que projeção de dúvidas e medos, como se no amor houvesse alguma certeza ou garantia.

Como se ao iniciar um relacionamento pudéssemos comprar a garantia estendida ou o seguro assim como quando compramos uma TV nova no Magazine Luiza.

O coração fica perdido, gritando com o cérebro atrás de respostas embasadas em uma razão que nunca existiu e aí não tem quem dê jeito.

O medo fica um passo à frente do desejo e a coragem manda mensagem que resolveu tirar férias ou ir dormir antes das 21h.

Quando o coração não sabe o que fazer, joga no colo do acaso. E o acaso que não tem nada a ver com isso assiste de camarote algo que podia ter sido perder pro medo de tentar.

Coisas da vida...

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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