Opinião

O Eterno Retorno ao show do Coldplay

21/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Eu vou a todos os shows do Coldplay aqui no Brasil. São 11 no total (seis em São Paulo, três no Rio de Janeiro e dois em Curitiba). Toda vez que digo isso as pessoas - naturalmente - ficam chocadas.

Primeiro elas perguntam como eu consegui comprar os ingressos, uma vez que a disputa pelas entradas foi até caso de polícia (o site responsável pelas vendas não suportou o volume de gente querendo comprar e os ingressos acabavam muito rápido, gerando desconfiança dos fãs); segundo perguntam de onde eu teria tirado tanto dinheiro assim para adquirir os tickets, já que a média de valor é de 500 reais cada um; por fim perguntam o motivo de eu ir em 11 shows, já que teoricamente eles são os mesmos.

Os ingressos eu consegui com ajuda de muitos amigos que, junto comigo, fizeram mutirão para tentar conseguir as entradas pra mim. Cada um com um ou mais computadores ligados no site para aumentar minhas chances de sucesso. O dinheiro eu consegui com o meu trabalho e planejamento financeiro: juntei grana, simples assim. E o motivo de eu ir em todos os shows? Permita-me recorrer mais uma vez a filosofia de Nietzsche para dar conta de responder algo.

Nietzsche nos ensina que um instante de vida que você quer que dure para sempre é um instante de vida que vale a pena ser vivido. E esse é um ponto crucial para nossa conversa.

Quando você for fazer algo, faça-se duas perguntas bem simples: 1. Eu quero isso? Se a resposta for sim, faça a segunda pergunta: 2. Eu quero isso pra sempre? Aqui você já perdeu o rebolado…

Querer algo pra sempre é muito sério. Imagina você fazer a mesma coisa todos os dias, infinitas vezes? Não é tudo que estamos dispostos a isso. Mas quando você encontra algo que valeria essa repetição perpétua, você encontrou um instante de vida que vale a pena ser vivida.

É o que Nietzsche chama de Eterno Retorno. Você está vivendo um momento e se pega pensando: "não quero que ele acabe", para ele não acabar, você estaria disposto a repeti-lo uma, duas, três… infinitas vezes. Voltando ao mesmo momento, repetindo as mesmas sensações.

Claro que é impossível viver assim. Primeiro que geralmente não depende só da nossa vontade repetir um momento quantas vezes quisermos. E segundo, um momento nunca será igual ao outro. Por mais que você faça tudo igualzinho, você já não é mais o mesmo. Sabe aquela história de Heráclito de que "ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez"? Pois é.

Porém, acredito que é possível se proporcionar momentos de Eterno Retorno, ou algo próximo a isso. Para mim, assistir bandas que eu sou muito fã - no caso aqui o Coldplay - me causa muita alegria. Não gosto quando o show acaba e gostaria que ele durasse para sempre. Já que isso é impossível, gostaria que ele se repetisse o máximo possível. O possível pra mim foi repetir esse instante de vida feliz 11 vezes.

Não quero soar como um guru (que soam como charlatões da retórica), longe disso. Mas quero que você pense por um minuto: qual instante de vida que te alegra, que faz você querer que ele não acabe, que faz você querer repeti-lo infinitas vezes? Agora responda: você busca viver esses momentos o máximo que você pode? Busca repetí-los o máximo que você pode?

Acredite em mim, ou melhor, em Nietzsche, quando ele sugere que você encontre o que te alegra e faça isso quantas vezes for possível. Talvez você descubra então que a vida vale a pena ser vivida.

Estou indo para mais um show do Coldplay no momento que escrevo esse artigo e posso afirmar categoricamente, como é bom viver!

Conhecimento é conquista.

Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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