OPINIÃO

Agro é prioridade

19/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Os resultados da Festa da Uva mostram que a produção agrícola merece toda a atenção da comunidade, a começar pelo Poder Público. Tenho me angustiado com a perspectiva de que mais de duzentas profissões desaparecerão em breve, algumas das quais já extintas, por força da Quarta Revolução Industrial. Já o cultivo da vindima não está nessa lista. Ainda precisamos dos humanos para manter a produção que fez com que Jundiaí fosse chamada "Terra da Uva".

É o momento de preparar a juventude jundiaiense para a preservação dessa cultura e para inovações que poderão agregar valor a ela. Da uva se faz suco e vinho. Pode-se fazer geleia e de vários tipos. Doces e bolos podem ser incrementados com a utilização desse fruto.

Por feliz coincidência, almocei na sexta-feira com o ministro André Mendonça, do STF, a convite de Thirso Meirelles, vice-presidente da Federação da Agricultura e da Pecuária de São Paulo. O Ministro é filho e neto de agricultores. Tem imenso apreço a essa categoria. Entende que o verdadeiro agricultor é o maior amigo da natureza, pois dela depende para bem exercer o seu mister.

Preocupa-se com a delimitação da fronteira do que pode ou não ser feito na zona rural; com o estímulo aos pequenos agricultores, pois mais de cinquenta por cento do território paulista é ocupado por propriedades inferiores a vinte hectares. Mas bem aproveitados, são suficientes para alimentar o agricultor e sua família e para fazê-lo apto a vencer novos desafios.

Estes existem. O mundo inteiro precisa se alimentar. O que deu certo no Brasil foi a agricultura. Mas criou-se um estigma, como se o agro fosse inimigo do meio ambiente. É urgente eliminar essa área de atrito. Investir na educação das novas gerações, para que elas se entusiasmem com o cultivo daquilo que em nossa terra se desenvolve a contento. Gerações que são criativas e engenhosas e que podem agregar valor àquilo que hoje é exportado apenas na condição de comodities.

Jundiaí tem também morango, tem caqui, tem pêssego. Tem cítricos e tudo isso pode estimular a fabricação de produtos que tenham o seu valor acrescido e possam servir a nichos de consumo bem sofisticados.

O SENAR faz um trabalho importante na educação para a agricultura. Um bom investimento na área injetará recursos na economia, poupará os gastos na saúde e também na segurança. Nada como incutir na criança e no jovem o orgulho por extrair da terra aquilo que ela devolve, com generosidade e em cêntuplo, em relação ao que nela se empregou em tempo, trabalho e carinho.

Uma agricultura que mantenha a juventude no campo não será ameaçada por qualquer nova tecnologia. O chatGPT, pois esta ferramenta não conseguirá produzir uma uva, um morango, um caqui, um pêssego ou uma tangerina melhor do que aquela resultante do cuidado e do apuro de um eficiente cultivador.

A indústria do turismo é outra que pode extrair vantagens de uma injeção vitamínica na lavoura. Jundiaí tem de aproveitar a pequena distância de grandes conurbações, como a insensata São Paulo e a macro-região de Campinas. As visitas de fins de semana, para cantinas, restaurantes que podem caprichar em receitas familiares, em servir a seletos grupos gourmets, com surpresas gastronômicas, garantirá o sustento digno de milhares de jundiaienses.

É o município que tem de liderar essa verdadeira revolução, em vez de lamentar a legião de jovens a cursar Faculdades que não garantirão subsistência e produtoras de profissões em mercado saturado e decadente.

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

1 COMENTÁRIOS

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  • Antonio Quirino
    20/03/2023
    E meu professor o senhor diz verdades que muitos preguiçosos jamais querem ouvir . Precisamos de celulares e computadores para ajudar no dia a dia. más ninguém come esses elementos, e sem os nossos grandes ou pequenos agricultores os humanos deixarão de existir . Culpar esse ou aquele por desvios do meio ambiente e pensar que os alimentos nascem nas prateleiras dos supermercados . Obrigado puma opinião tão embasada e de quem sabe da importância dessa classe de trabalhadores .