A popularidade dos anticoncepcionais, em especial a pílula oral, tem caído cada vez mais entre as mulheres. O principal motivo é a substituição do medicamento por outros métodos contraceptivos, além do risco à saúde e efeitos colaterais relatados por quem já fez uso do tratamento. Apesar das desistências ao longo dos anos, o método segue como preferido de 58% das brasileiras que usam contraceptivos, de acordo com a pesquisa do Instituto Ipsos, em 2021.
De acordo com o ginecologista e obstetra, Juan Carlos Melgar, o anticoncepcional é o medicamento mais prescrito do mundo e, assim como todos os remédios, o método tem seus benefícios e riscos. “Cada paciente tem que ser muito bem avaliada para saber se irá se beneficiar com o uso do anticoncepcional ou não. Além de diagnosticar se a mulher faz parte de um grupo de risco que não é recomendado fazer o uso do medicamento, como histórico de tromboembolismo, câncer de ovário e útero”, diz o médico.
DE POPULAR A SUBSTITUÍVEL
Há mais de 70 anos, a pílula anticoncepcional chegava ao mercado. Vista como um símbolo da libertação sexual das mulheres, o contraceptivo dava a elas, pela primeira vez na história, o controle da própria fertilidade e a opção de fazer sexo sem o temor de engravidar, podendo separar o prazer da procriação.
Porém, ao passar dos anos, e com o conhecimento de outros métodos contraceptivos, como o DIU, a injeção mensal, além do preservativo feminino, muitas mulheres têm buscado alternativas para deixar de tomar o comprimido diário por motivos que vão desde conhecer melhor o próprio corpo ao receio de efeitos colaterais e, principalmente, risco graves à saúde.
Para Melgar, a substituição das pílulas por outros métodos acontece de forma natural. “É um medicamento que tem mais de 70 anos, com o aparecimento de outros contraceptivos, é natural ocorrer essa substituição. Cada mulher precisa conhecer seu próprio corpo e saber o que é melhor para ele”, reforça o especialista.
Mara Aparecida de Andrade, de 36 anos, fez uso da pílula anticoncepcional durante oito anos consecutivos como método contraceptivo e para regular seu ciclo menstrual. Por conta dos efeitos colaterais e o planejamento da gestação, a bancária deixou de fazer uso do tratamento. “Eu parei de tomar a pílula, primeiramente, por iniciativa própria. Percebi que não estava me fazendo bem e só aumentava os efeitos colaterais, como a diminuição da libido, dores de cabeça que foram se intensificando com o tempo e inchaço no corpo”, revela a bancária.
Após a escolha de suspender o uso, Mara foi diagnosticada com hipertensão cinco meses depois. “Após o diagnóstico eu engravidei e, por vontade própria, nunca mais voltei a usar a pílula. Minha médica já conversou comigo sobre o uso do dispositivo intrauterino (DIU), mas até o momento prefiro não fazer uso desse método porque estou confortável dessa forma.
Hoje o único método contraceptivo que faço uso, na verdade meu marido, é o preservativo masculino”, diz.
Quando parou de fazer uso do medicamento, Mara também percebeu mudanças no corpo, como aumento da libido, redução do inchaço e o sentimento de leveza. De acordo com o ginecologista, por se tratar de hormônios femininos, é comum perceber mudanças após a suspensão do uso. “A suspensão do uso do anticoncepcional pode causar mudanças no corpo e no fluxo menstrual. O recomendado é que a mulher utilize enquanto for fértil, se não apresentar nenhum risco e histórico de problemas de saúde pelo uso”, explica Melgar.
Assim como Mara, a advogada Thais Colagrossi, de 44 anos, usou a pílula durante 20 anos para prevenir a gravidez. “Deixei de fazer uso da pílula anticoncepcional, pois me sentia muito inchada e tinha muitas dores nas pernas, então optei pelo DIU e uso este método há mais de cinco anos. Não tenho mais cólica, não tenho mais tensão pré-menstrual (TPM) e não preciso mais de absorvente.”
EMBOLIA PULMONAR
Entre os riscos à saúde que podem ocorrer pelo uso do anticoncepcional estão varizes, trombose, hipertensão e embolia pulmonar, como aconteceu com a fonoaudióloga Carla Bassanello, de 54 anos. “Fiz uso do método dos 46 aos 48 anos, mas ao invés da pílula oral, optei pelo adesivo para regular minha menstruação e as cólicas. Deixei de lado o tratamento quando fui diagnosticada com embolia pulmonar, além dos efeitos colaterais que eram constantes, como dores de cabeça e enjoo. Hoje não utilizo mais nenhum medicamento contraceptivo”, lamenta Carla.
O caso de embolia pulmonar após uso do anticoncepcional também aconteceu com Maria (nome fictício, pois a entrevistada não quis se identificar), que tomou a pílula por apenas três meses e foi diagnosticada com a doença. “A princípio não tive sintomas enquanto fazia uso da pílula, mas após três meses apresentei dores fortes na parte inferior lateral das costas e fui diagnosticada com uma embolia pulmonar bilateral. Fui parar na UTI e precisei fazer uso de anticoagulante por seis meses. Eu não tinha nenhum outro fator de risco e todos os médicos que me acompanharam consideram que o causador da doença foi o anticoncepcional”, relata.
Com os riscos à saúde, mudanças no corpo e perda de popularidade do anticoncepcional, o futuro dos métodos contraceptivos passa por evitar as alterações hormonais e substituir por tratamentos mais naturais.
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