Opinião

Bagagem

25/02/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Eu me lembro de minha primeira viagem. Eu tinha 8 anos. Fiquei arrumando as malas com uma semana de antecedência.

Coloquei o gameboy, os tazos e minhas bolinhas de gude na mochila. Coloquei até minha bolinha da sorte, com ela não tem pra ninguém.

Chegando lá, meus primos estavam brincando com seus bonecos de Power Rangers daqueles que viram a cabeça. Eu até tinha dois, o branco e o vermelho. Mas ficaram em casa.

Fiquei de canto com o meu gameboy.

No ano seguinte, viajei de novo, mas, agora mais esperto, deixei as bolinhas e o gameboy. Coloquei meus Power Rangers e meu carrinho de controle remoto com 28 leds.

"Esse ano vai ser incrível." Pensei enquanto fechava o zíper.

Power Rangers já tinha saído de moda, estavam todos jogando bolinha de gude. Que azar, minha bolinha da sorte ficou em casa.

Com 12 anos queria levar tudo, meu pai não deixou, reclamou que não caberiam no Corsa. Levei um dos meus livros de Asterix e Obelix. Pelo menos terei o que ler quando ficar de canto.

Todo mundo estava jogando Mario Kart no Nintendo 64. Mal encostei no livro.

Engraçado isso: quando eu zerei as expectativas foi a minha melhor viagem.

Acho que quando eu não levei mala é que eu tinha mais bagagem.

Às vezes coisas de mais só servem pra apitar no detector e atrasar o embarque.

Isso vale pra tudo...

Tipo vida amorosa. Esses dias, bebendo na cozinha com meu primo, o mesmo das bolinhas de gude e Power Rangers, falei que tem um tempo que a vida está tranquila, o namoro em paz e o trabalho controlado.

Ainda não gosto do meu chefe, mas aprendi dar de ombros.

Quanto ao namoro, com o tempo passei a ver o que realmente importa, ressignificar o conceito de companheirismo, ter uma vida a dois e ainda manter as individualidades.

Maturidade.

Ou melhor, bagagem. Já fiz escolhas certas, erradas e por vezes nem escolhi, fui escolhido pelo acaso.

Acho que nesse ponto sou igual àquele menino de 8 anos, ainda tentando o que escolher, o que colocar e o que tirar da mala.

Mas sempre adquirindo, bagagem.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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