Com a globalização das economias, que teve início a partir de 1980, as faces presentes nas relações internacionais se intensificaram rapidamente e os processos de interdependência e complementariedade entre as Nações, estão presentes, em tempo real, no dia a dia do intercâmbio entre os exportadores e importadores, globalmente.
A realidade atual nos mostra que as decisões econômicas de um País, não podem ser tomadas isoladamente, sem considerar a realidade econômica internacional, ou seja, somente considerando as variáveis internas e os objetivos que se pretende alcançar.
Vivemos nos Brasil, a partir do Governo, uma intercorrência acerca da independência do Banco Central do Brasil, que o possibilita, decidir, em Comitês de Diretoria, a política monetária e, como a sua maior função, em condição precípua, é a de combater a inflação, de forma a conduzí-la para o centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional, considerando a inflação no momento presente, de um mês ou um período e suas perspectivas para o restante do ano, o Comitê decide o percentual da taxa básica de juros – a Selic, a ser praticada no País.
Outra questão subjacente , em sequência, vem a crítica da atual Taxa Básica de Juros, de 13,75% ao ano que, descontando a inflação anual próxima de 5,75% ao ano, neste momento, resulta em juros reais de 8,00% ao ano, considerado por muitos analistas econômicos, como o maior percentual do mundo.
Todavia, algumas considerações precisam ser feitas: o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo (inflação), fechou em janeiro passado em 0,53% e, em doze meses, igual a 5,77%, considerando a inflação de onze meses de 2022, mais um mês (janeiro) deste ano. A pergunta devida, qual será a inflação deste fevereiro e nos demais meses de 2023 ? Se permanecer em 0,53% ao mês, durante todos os demais meses deste ano, teremos uma inflação anual de 10,60%, portanto, muito próximo da Taxa Básica de Juros de 13,75% ao ano ?
É importante observar que o Banco Central do Brasil decide a política de combate a inflação, olhando para o presente e o futuro da inflação interna e, também da inflação no mundo e suas respectivas tendências.
Por exemplo, o Reino Unido teve uma inflação de cerca de 11,00% em 2022; a Europa, próxima de 10,00%; nos Estados Unidos, aproximadamente 6,00% e na China, entre 4,00% e 5,00% ao ano.
Em nossas importações desses mercados, é previsível que também importemos as suas respectivas inflações , que se somarão, quando transformadas em “custos” dos insumos ou mercadorias, à inflação interna.
Outra vital questão a considerar, é a ancoragem da política monetária na política fiscal do Governo Federal. Se houver um déficit elevado, a política monetária terá que ser mais austera.
Ainda é preciso considerar como foi a arrecadação tributária em janeiro passado e como será a projeção do resultado primário do Orçamento Público deste ano ?
Prudentemente, sem essas informações e tendências, é muito cedo para criticar os juros básicos praticados em nossa economia.
Messias Mercadante de Castro é professor de economia, membro do Conselho de Administração da DAE S/A e Consultor de Empresa.