Opinião

Agradecimentos e gratidões

16/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Sabe aqueles dias que a gente acorda com a energia acima do normal? Que mesmo que uma pomba cague em sua cabeça ainda assim nada pode estragar seu humor?

Hoje é um desses dias pra mim.

Acordei, olhei pro lado, vi que ao meu lado tinha uma companheira incrível, tipo quando a gente sabe que encontrou alguém pra dividir a vida, as contas estavam pagas, o gato ronronando ao lado e a cachorra veio trazer a bolinha pra brincar. Acho que querer mais que isso depois de uma noite em que o jantar de comida japonesa é querer demais da vida. É ser cego a ponto de não saber apreciar as coisas boas da vida, aquelas que realmente importam.

E isso me fez pensar: "Como foi que eu cheguei até aqui?"

Me fez lembrar que não foi o que, mas sim como e porquê.

Quando eu era criança, meu pai passou por situações difíceis e sempre teve a maestria de me fazer entender que o que ele me dava não era o melhor, mas era o melhor que ele podia me dar naquele momento e isso de forma alguma me tornou uma criança frustrada, muito pelo contrário, só me fez ter mais orgulho daquele homem, que sempre se desdobrou em quantos fossem necessários para que seus quatro filhos pudessem ter tudo que ele não teve. E foi assim que eu passei a ver meu pai como um super-herói. Que dobrava a rua não com seu Batmóvel, mas com seu Del Rey com a lateral amassada e um sorriso no rosto que me fez perceber que eu terei feito muito se conseguir passar ao meu filho um pouco do que ele foi, de tudo que ele me ensinou (eu digo o caráter, não o carro, este já é sucata).

É que ele fazia tudo isso pois sabia que em casa tinha uma mulher tão incrível quanto, que enquanto ele tem a sorte de chamar de esposa, eu tenho a sorte de chamar de mãe.

Minha mãe sempre foi daquelas que se preocupavam demais com os filhos, alguns chamavam de super-protetora, eu sempre gostei de pensar que aquela mulher tinha tanto amor que não cabia no peito, e precisava dividir conosco.

Me sinto sortudo em poder escrever e reconhecer isso com nostalgia, e não com saudade. Por ainda ter eles vivos pra ler esse texto. Porque a vida passa tão rápido e muda tanto que a gente se perde nas lembranças de quem fomos.

Eu me lembro que a primeira vez que eu vi meu pai chorar. Eu já era grande, foi quando ele foi me levar na rodoviária, quando eu decidi sair de casa e encarar o mundo de frente. Ele que sempre se fez tão durão acabou desmoronando e admitindo que tinha um coração embaixo daquela casca. Eu sempre soube, mas foi bom ver assim tão de perto.

E mais uma vez a vida me presenteou, quando eu pude ter em dois tios meus uma extensão da minha casa, e não precisei encarar o mundo assim tão só.

E se hoje eu consigo escrever este texto, assumindo a alcunha de escritor, com certeza tem a mão do tio Sivaldo e da tia Reisinha, que me apoiaram assim como meus pais, vestindo essa capa de amor e acolhimento que me ampararam em um momento de medos e incertezas.

E se essa crônica é sobre agradecimentos e gratidões com certeza preciso agradecer imensamente a quem inventou o computador e deixou a máquina de escrever obsoleta, servindo apenas como item de decoração ou antiquário, pois se eu tivesse que escrever essas linhas com teclas e papel com certeza as inúmeras lágrimas de emoção manchariam a folha.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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