Novo empreendedorismo e queda da pobreza

29/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Não é necessário levantar os dados estatísticos dos organismos e entidades que pesquisam a pobreza no Brasil para entender a gravidade dessa mazela social. Basta ter olhos para ver. Eventualmente, de acordo com o maior ou menor empenho deste ou daquele governo, o índice oscila para cima ou para baixo, mas sempre em uma faixa inaceitável.

Nos governos mais comprometidos com a questão social, cientes da urgência necessária para atender as demandas básicas das populações mais carentes, têm sido aplicadas medidas assistenciais necessárias, todavia paliativas.

Esse sistema, iniciado no Governo Fernando Henrique por Rute Cardoso, posteriormente encampada pelo presidente Lula em seu primeiro mandato, com o Bolsa Família, é, sem dúvida, necessário, pois, como dizia o sociólogo Herbert de Souza no início dos anos 1990, "quem tem fome tem pressa".

A questão é que essas ações não dão conta da questão central: a perpetuação do problema. No longo prazo, a solução efetiva depende da melhoria da educação e do saneamento básico. A boa notícia, no caso do ensino, é a nomeação para o Ministério da Educação do ex-governador do Ceará, um caso de sucesso nessa área, estado brasileiro que tem conquistado os primeiros lugares nos rankings nacionais e sucessivas vitórias em certames internacionais de disputas escolares.

No saneamento básico, podemos também olhar com esperança o futuro, devido à aprovação do Novo Marco do Saneamento, que permite a participação do capital privado no setor. Jundiaí foi pioneira nessa iniciativa, tendo criado, décadas atrás, uma PPP (Parceria Público-Privada) que tornou nossa cidade um modelo nacional no setor. Essa conquista - o Novo Marco - que em um ano de funcionamento conseguiu alocar recursos equivalentes ao total investido dos dez anos anteriores, encontra-se, no entanto, ameaçada por questões ideológicas pela política estatizante.

Obviamente essas medidas - melhoria do saneamento e da educação - são estruturais, e os seus resultados positivos são medidos por gerações. No curto prazo a redução da pobreza depende de ações mais imediatas, que garantam a sua diminuição sustentada, ou seja, naturalmente em contínua expansão.

A boa notícia é que a democratização do avanço tecnológico tem propiciado o acesso a ferramentas, antes acessíveis a poucos, a um contingente cada vez maior da população. Essa é a raiz do chamado novo empreendedorismo.

Suas características principais, de ampliar exponencialmente o mercado de micro negócios - estamos falando aqui de pequenas iniciativas geralmente familiares em favelas, por exemplo -, e acesso a informações sobre boas práticas administrativas e a investimentos que veem nessas ações uma oportunidade de obter, no médio prazo, bons lucros.

A CUFA (Central Única de Favelas) tem promovido esse modelo com bons resultados desde o início da presente década, a partir de parcerias com entidades como o Sebrae, para capacitar empreendedores nessas comunidades, fomentando com isso o ambiente de negócios localmente, de forma sustentável e qualificada.

A Stone Impacta, uma empresa brasileira na área da tecnologia, em parceria com o Banco da Providência, entidade sem fins lucrativos com sede no Rio de Janeiro, lançaram no ano passado um programa voltado para o incentivo do empreendedorismo, com o objetivo de reduzir efetivamente a pobreza extrema no país.

Casos como esse, de empresas e entidades associadas a promover o uso da tecnologia em ambientes com alto nível de incerteza, tem se multiplicado mundialmente. O objetivo é tornar o empreendedorismo de impacto social e ambiental em negócios superavitários, ou seja: capaz de gerar lucros para os seus investidores.

Em seu conjunto, essas iniciativas fazem parte da chamada Economia Verde, o novo modelo que pode permitir gerar riqueza com o combate ao desequilíbrio do clima. O Brasil, caso consigamos evitar o retrocesso da mentalidade arraigada no passado, e manter o olhar voltado para o futuro, pode se beneficiar enormemente com os frutos desse futuro, que já se faz presente.

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí (miguelmhaddad@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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