A família, os amigos, os ídolos e o crime

26/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Quando se analisa o comportamento das pessoas na vida em sociedade, há necessidade de se estudar o que as levou a agirem dessa forma, e essa análise remete à algumas questões interessantes.

Toda conduta do ser humano é motivada por algum fator, independentemente se for uma ação boa ou ruim. E a prática de um crime não foge dessa regra.

Desde criança o indivíduo recebe informações, ficando gravadas em sua memória principalmente o que vê e ouve no meio em que convive, e consequentemente ele falará e fará no futuro coisas ligadas ao material a que ele tem acesso durante seu desenvolvimento na infância, na adolescência e na juventude.

É exatamente aí que entram valores e costumes da família na qual a pessoa cresce. Com certeza se o lar e a relação com os pais e irmãos for saudável, a pessoa será forjada para se comportar de maneira benéfica, porém se houver discussões em excesso e vícios – seja em álcool, tabaco ou drogas – igualmente contaminará a evolução adequada.

Assim que adquire certa liberdade, o jovem passa a se relacionar com amigos e as características dessa relação também impactarão diretamente na formação. Se os colegas cultivarem hábitos e frequentem ambientes saudáveis, isso contribuirá para solidificar o bem dentro dos valores do jovem, no entanto a adoção de comportamentos imorais poderá ser a porta de entrada para um caminho muitas vezes sem volta. Como diz o velho, mas bastante atual ditado popular: diga-me com quem andas que direi quem tu és.

Conforme adquire livre arbítrio, o ser humano passa a consumir "produtos" como arte, música, esportes e eventos em geral, e consequentemente a admirar pessoas que se tornam seus ídolos, o que pode exercer influência positiva ou negativa.

Não se trata aqui de discutir gosto, muito menos exercer qualquer forma de discriminação, até porque a liberdade de expressão no Estado Democrático de Direito é fundamental.

Ocorre que muitos desses ídolos são "fabricados" por produtores e ganham espaço nas mídias de forma meteórica, sem que tenham passado por processo de formação sólida. São castelos de areia, que podem desmoronar a qualquer momento, tão logo a moda passe. Além disso, invariavelmente acabam por se envolver em escândalos ou eventos ilícitos, exatamente pela ausência de valores firmes e que indiquem a direção correta a ser seguida.

Necessário destacar que a quantidade de "desconhecidos" que se tornam ídolos do dia para noite é mínima, o que pode trazer frustração para os jovens, pois desejam ser iguais a esses, mas não foram "selecionados". Na ânsia de se tornarem respeitados e materialmente bem sucedidos, podem partir para o mundo do crime, que por vezes proporciona acesso ao que os jovens desejam de forma imediata, no entanto passageira e com consequências drásticas.

Não há fórmula para o sucesso que não tenha como ingredientes o estudo, a dedicação, o cuidado com o corpo e a mente (e também com a parte espiritual, para quem crê em um ser superior, chamado tradicionalmente de Deus). Sucesso é a junção de capacidade com oportunidade, ambas criadas pela própria pessoa.

Para manter crianças, jovens e adolescentes no caminho certo, cabe ao Poder Público proporcionar estrutura de educação, cultura e lazer para entretenimento e formação de referências positivas. A pessoa é reflexo do meio em que vive.

Marcel Fehr é delegado de polícia do Estado de São Paulo

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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