Todos os anos, em janeiro, sob a neve e o clima gélido de Davos, na Suíça, a comunidade internacional se reúne para uma reflexão conjunta no Fórum Econômico Mundial. Embora tenha este apelo à economia no nome, o encontro que reúne cerca de 2.700 empresários, líderes políticos e expoentes da sociedade civil e da cultura de 130 países, é bem mais amplo. Na verdade, debate os rumos do mundo e como trazer mudanças positivas para as nações.
É uma oportunidade para os participantes trocarem impressões, estreitarem relações e serem ouvidos por uma plateia global, por isso o Brasil costuma marcar presença. Nesta edição, "Cooperação em um mundo fragmentado" foi o tema escolhido.
O Fórum Econômico Mundial foi criado pelo economista e professor suíço-alemão Klaus Schwab, em 1971. Desde então, foi palco de momentos muito importantes, como o encontro entre representantes da Alemanha oriental e da Alemanha ocidental, com vistas à reunificação concretizada em 1990.Também foi lá o lançamento da Aliança Global para Vacinas e Imunização, em 2000, que já contribuiu com a vacinação de 760 milhões de crianças.
Mas é a economia o pano de fundo do evento. Neste ano, aliás, os participantes não estão otimistas. Quase 70% de economistas-chefe dos setores público e privado entrevistados pelo Fórum Econômico Mundial esperam uma recessão global e 18% consideram esta marcha ré na economia "extremamente provável".
Os vilões são a inflação alta, a dívida elevada, o baixo crescimento e o ambiente de alta fragmentação depois do rompimento das cadeias produtivas, da pandemia e do conflito Rússia-Ucrânia. Para a diretora-executiva do Fórum, Saadia Zahidi, este contexto reduz os incentivos para a realização dos investimentos necessários para retomar o crescimento e elevar os padrões de vida dos mais vulneráveis do mundo.
Em 2023, a subida das taxas de juros iniciada pelos principais bancos centrais no ano passado se fará sentir com mais força, inibindo o crescimento econômico. Da mesma forma, a continuidade da guerra no continente europeu prolonga as incertezas e encarece o preço da energia, sobretudo na Europa.
Uma das principais vozes da economia global, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, indicou, ao participar de um painel, que os juros deverão seguir aumentando na região. Ela aconselhou os investidores a ajustarem suas posições para esta realidade, pois a combinação de inflação alta com mercado de trabalho aquecido (melhor desempenho em 20 anos na zona do euro) pressiona as taxas. A meta é levar a inflação para o patamar de 2% anuais.
Neste ambiente mundial fragmentado, a Organização Mundial do Comércio (OMC), por sua vez, projeta um crescimento de 1% no comércio global - no ano passado, a entidade chegou a estimar crescimento de 3,4% nas trocas comerciais.
Outros temas relevantes para a agenda global também foram debatidos no encontro. Questões ligadas ao meio ambiente, como mudanças climáticas, combustíveis fósseis e agenda ESG estão cada vez mais presentes. A divisão do mundo em Leste-Oeste e em Norte-Sul, enfrentamento da pobreza e inovações tecnológicas também estiveram em pauta.
O Brasil marcou presença em Davos. Pelo governo federal, estiveram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Pelas administrações estaduais, os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Helder Barbalho, do Pará, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Da sociedade civil participaram lideranças como o presidente do banco BTG, André Esteves, e o apresentador de televisão, Luciano Huck.
Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)